71 - Brincar de Matar

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  Um som alto estrondou pelo bar, e então outro, arregalando os olhos agarrei o pulso da Alícia e gritei.
  - Pro chão!
  Os gritos irromperam bar a dentro e fora, corpos foram pro chão, e eu e a Alícia também atrás das banquetas, uma do lado da outra respirando descompassado ao mesmo tempo que um grupo de várias pessoas mascaradas de palhaços assassinos invadiam o bar disparando com armas de fogo pra todos os lados. Os pais do menino chato que estava perturbando a Alícia haviam sido um dos primeiros.
  - A gente precisa fazer alguma coisa. - Falou ela pegando a arma e eu alcancei algumas facas.
  - Não podemos nos afastar então. - Alertei e assim que assentimos concordando uma com a outra partimos pra briga.
  De primeira, pegamos as banquetas e lançamos assim que avistamos os atirados, com cuidado pra não nos expor demais, a Alícia começou a disparar também e eu a lançar facas, nos misturamos na aglomeração de pessoas correndo e caindo no chão, gritos ensurdecedores cortavam os cantos do bar, e ao mesmo tempo que uns se encolhiam, outros tentavam lutar, caras com tacos partiam pra cima dos atiradores à todo vapor. Muitos caíam.
  Quase fui pega de surpresa no meio de uma briga dessas, um atirador tentou colocar a arma na minha cabeça, mas eu rasguei a garganta dele a tempo de tomar sua arma e passar pra Alícia. Ela estava se dando bem com os adversários, enquanto não distribuía coronhadas, era balas mesmo. Uma atrás da outra sem freio. Pelo menos até eu sentir ela pesar sobre mim. Estávamos uma de costas pra outra, e quando eu senti que ela perdeu força e pendeu pro meu lado meu coração acelerou muito.
  Agarrei o pulso dela e comecei a nos puxar na medida do possível para trás do bar, a área do barman que era pelo menos um pouco mais protegida. Tinha algo de errado, mas no meio da confusão eu não conseguia ver.
  Ainda tivemos que brigar com mais uns três caras, eu consegui controlar dois com as facas, já a Alícia partiu pro soco com o outro, pulando no quadril dele e o socando com toda força, os sons dos tiros seguidos no meio da multidão estavam me deixando surda quase. Era muito barulho, muitos gritos.
  Enfim consegui arrastar a Alícia para trás do balcão. Nos jogamos ali praticamente, escorregando as costas na madeira até sentar no chão frio.
  - Agora ferrou. - Consegui dizer meio sem fôlego, o coração pulando na garganta e quando olhei pra Alícia percebi que ela estava pressionando a barriga, a mão estava molhada de sangue, meu coração se contorceu dentro do peito - Merda! Merda! Merda!
  Ela levantou a cabeça negando, mais pendendo de dor do que para realmente conseguir fazer alguma coisa, queria mostrar que dava pra aguentar, ela sempre fazia isso e eu quase a segurei pra impedir, mas ela não me disse que ia suportar, ao invés disso ela sussurrou um número.
  Polícia.
  Pesquei o celular no bolso depressa, aliaviada por não tê-lo perdido na confusão e nos encolhemos uma pra perto da outra enquanto eu discava o número de emergência do pai da Alícia.
  Os tiros não cessavam atrás de nós e mesmo naquele local ainda estávamos vulneráveis. Os tiros não paravam, gritos dos homens que antes jogavam sinuca, copos indo pro chão, garrafas de vidro quebrando, mulheres berrando como se não houvesse amanhã.
  Com o telefone no ouvido, torcendo pro pai da Alícia atender eu espreitei a situação. Não estava nada boa, enquanto uns seis disparavam sem parar lá no meio da multidão uns três  do grupinho se encarregaram de baixar as portas do estabelecimento.
  - Que merda é essa? - A Alícia rosnou com dificuldade e eu percebi que ela estava pegando sua arma - Eles vão matar todo mundo ou só querem assaltar?!
  Enquanto eu não respondia sua pergunta ela destravou o revólver e se inclinou um pouco para ter visão também da confusão, mirou na cabeça de um dos que estavam de costas fechando as portas do bar. Um disparo perdido no meio dos outros e então aquele foi pro chão com um tiro na nuca, ela mirou na outra, uma mulher que também estava mascarada de palhaço ajudando a lacrar o lugar.
  Mais um disparo e ela foi pro chão também com um tiro no pescoço.
  - Que merda é essa? Tem um tira aqui??! - O último dos três que havia fechado a última porta se virou na nossa direção, ele nos viu e a Alícia disparou na cabeça dele também. A bala atravessou a testa dele e ele caiu de joelhos no chão. Sem piedade.
  - Vermes de merda, matando por diversão... - Ela rosnou mais irritada ainda e logo em seguida gemeu de dor por ter forçado o corpo, eu tentei ajudar, coloquei uma das mãos na sua barriga pra tentar estancar o sangue e com a outra livre peguei algumas das minhas facas, mirando na cabeça de um cara que estava prestes a atirar numa menininha pequena.
  Lançei a faca e ela atravessou a cabeça dele.
  - Por que esse lugar tinha que estar tão movimentado hoje?! - Agora quem se irritou fui eu e foi nesse momento que os tiros cessaram.

PRISON IIWhere stories live. Discover now