89 - Olhos de Fogo

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- Alícia on-

  - Você não tem noção... - Ele sussurrou, a voz masculina penetrando meus ouvidos com crueldade enquanto meu corpo gelava por inteiro. Quando ele afastou a cabeça o bastante para ficar olhando nos meus olhos, sustentando o ódio através das íris com tanto fervor eu pude sentir aquela raiva se tornando um sólido real. Quase como se pudesse ser algo palpável. Realmente parecia.
  Era como se o ódio e a raiva estivessem dominando maior parte do cenário, com tanta persistência que os olhos dele pareciam estar em chamas. Me dava arrepios dos pés até os fios de cabelo sentir seus dedos frios se apertando na minha garganta.
  - O que você vai fazer? - Indaguei cerrando os dentes, me esforçando ao máximo para não permitir que ele notasse meu medo, e ele pendeu a cabeça para o lado, vislumbrando minha reação com interesse.
  Foi então que sua mão passou rapidamente pela cintura e voltou empunhando uma faca. E eu podia jurar que já tinha visto aquela faca antes, tinha até uma gravura...
  Mal pude ver e aquela doce sensação aterradora do medo da morte se instalou em meu peito. Eu não queria morrer. Não podia e não queria. Eu gostava da vida, amava de verdade sentir a vida... e não queria perde-la, ainda havia tanto pra fazer nessa vida. Eu não podia morrer e abandonar a Mallya... Meu irmão... Meu pai... A pena era que lá no fundo não dava pra mentir pra mim.
  - Você não vai sentir falta deles. - Ele respondeu árduo como se pudesse ler meus pensamentos. E alguma coisa despertou dentro de mim como se tivesse acabado de levar um tapa. Toda a valentia lentamente foi voltando.
  - O que você disse? - Retruquei fuzilando ele a lâmina gelada fez contato com a minha mandíbula. Tocando na minha pele tão suavemente que só pude sentir a ardência tomando posse. Ele estava me machucando. E isso foi capaz de me incentivar a guiar discretamente a mão na direção da faca para quebrar o pulso dele e tomar de sua posde a arma branca, ainda olhando dentro dos seus olhos.
  - Admita que lá no fundo, dentro do seu peito você sabe que não sente nada por eles...
  - Não. Não é verdade. - Neguei e o coração foi disparando.
  - A única coisa que lamenta é ter que deixar essa vida sem poder cumprir sua missão. Você queria me matar... bem, lamento que não vai conseguir. - Foi dizendo, seus olhos se convertendo, uma pequena fenda substituiu sua pupila, parecia demais com os olhos do dragão da Mallya. E então ele virou a faca pra minha pele. Mal teve tempo de recorrer e eu já havia torcido seu pulso e jogado a faca no chão, tão rápido que seus olhos mal puderam acompanhar que eu já havia recuperado o movimento das pernas pra chuta-lo e jogar no chão. E depois levantei, analisando sua máscara com os dedos coçando pra ver seu lindo rostinho e cortar ele todo.
  - Vou fazer você se arrepender do que disse. - Falei, e partir pra cima.
 
- Mallya on-

  - O que acha de morte lenta? - Ameacei empunhando duas facas ao guardar a katana e ele sorriu maliciosamente na minha direção.
  - Eu acho que começamos errado esta conversa, se me permite - Ele começou a se aproximar, fazendo questão de arregaçar as mangas da camisa que estava usando - Eu mesmo vou mostrar pra você como se mata alguém de verdade, criança.
  Então partiu pra cima.
  Foi um confronto, um de frente pro outro, e não adiantou lançar uma faca e usar a outra pra cortar, ele era rápido demais e se esquivava como nunca havia visto ninguém antes fazer, pelo menos não humano.
  - Vai precisar de mais que isso pra me convencer que realmente sabe fazer alguma coisa. - Jong Up sorriu, andando na minha direção enquanto eu recuperava o equilíbrio e lançava a mão na katana rapidamente.
  Lançei a faca, e esta passou de raspão em seu bochecha assim que ele tentou desviar. Grande pena, se não tivesse se mexido eu teria atravessado a cabeça dele.
  Segurei a katana com as duas mãos, e então fui adiante, mais um confronto, desta vez ele estava pegando algo para usar, só fui perceber que era uma arma quando ele segurou.
  Corri pra frente, avançando com a katana o mais feroz possível, meu coração veio parar na garganta, e assim que consegui proximidade o bastante para atacar ele puxou o revólver. E uma sensação clara de déjá vu me atravessou por inteiro, junto com a bala. Pensei na Alícia.
  Não pela arma, mas pela sensação. Ela fazia a mesma coisa quando atirava.
  - O que foi Mallya? - Está caindo na realidade agora? - Indagou ele destravando a arma com grosseria e mirando ela na minha perna.
  - Vai pro inferno! - Cuspi, mas ainda estava analisando ele. Tinha algo familiar nele, mesmo que minha mente negasse o que os olhos viam, eu não conseguia entender o que era.
  - Você não é essa vadia boazinha que segue todo mundo, vamos, confesse que você ficou feliz quando matou sua tia. Admita o prazer que sentiu vendo ela se afogar e as ondas batendo tão fortes contra o corpo dela a ponto de jogar o corpo fútil daquela mulher contra as rochas com força o bastante pra quebrar os ossos. Admita que adorou ver a cena, e jamais teria impedido, mesmo que pudesse voltar ao passado, você na verdade iria querer ver tudo de novo, e de novo... Se regozijando de tanto prazer. - Ele foi me envenenando.
  - Eu não matei ela! - Retruquei e senti meu peso sob os pés, formigando os tendões e me dando vontade de correr - Eu não sou assim, eu não sou um monstro que nem você e o Mark e o Gap Dong! - Esbravejei com força, mas conseguia sentir a adrenalina pulsando nas minhas orelhas, parecia que tinha fogo correndo no meu sangue. Uma sensação adorável que só me fazia sentir mais e mais capaz de destruir cada pedaço de carne humana que era composta do corpo de Jong Up.
  - Não precisa se enconder Mallya, todos sabemos que você é uma sociopata, mais cedo ou mais tarde vai ter que deixar o teatro e ser quem você realmente é. - Ele sorriu pra mim, como se fosse um convite, mas arma ainda estava apontada, especificamente pra minha cabeça.
  - Eu não sou o que você pensa. - Sibilei de volta e ele semicerrou os olhos na minha direção.

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