37 - Doce Amanhecer

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- Alícia on-

  Acordei suada, sentindo a ponta dos meus dedos formigando de inquietação, eu não tinha tido um pesadelo, mas acordei como se tivesse.
  Quando meus olhos bateram no teto eu me sentei, olhando o quarto a minha volta, a mal iluminação cortava cada canto do cômodo e me dava uma visão clara de que a cama estava vazia. Mark não estava mais do meu lado.
  Aquela solidão que percorreu o chão do quarto e me encontrou na cama pareceu despertar um leve pânico dentro do meu peito.
  Onde ele estava? E por que saiu da cama sem avisar sabendo que eu poderia ter pesadelos caso ele me deixasse sozinha?
  - Mark? - Chamei, insegura do que estava fazendo já que eu me lembrava claramente do filme O Chamado onde ocorreu uma cena parecida com essa, e quando a protagonista voltou a se deitar foi surpreendida por uma velha asquerosa que amaldiçoou sua vida, até o fim, o que me deixou louca de ódio e arrependida de ter assistido ao filme.
  Tomada pelo receio resolvi levantar da cama, se encontrasse a velha pelo menos estaria em pé para ter como me defender.
  Quando o silêncio respondeu a minha voz, eu resolvi ir até o banheiro, conferir se o encontrava, mas Mark não estava lá. E de alguma forma eu acho que sabia que ele não estava na casa, como se eu fosse a única quem tivese ficado ali dentro e todos simplesmente houvessem sumido.
  - Mark por favor não brinca com essas coisas, você sabe que eu tenho medo... - Pedi a luz suave e tênue que se esgueirava pelo quarto, sentindo o medo me assolar e de repente um som alto gritou no silêncio.
  Meu coração disparou e eu me virei na direção do ranger de dobradiças que vinha da janela, encontrando apenas a claridade da manhã que ameaçava dar suas primeiras saudações ao novo dia na areia da praia, não havia nada ali, só a rajada salgada entrando furtivamente pela janela aberta e confrontando meu rosto.

  - Por favor... - Acabei sussurrando, num pedido assustado de alguém indefeso e abri os olhos num engasgo quando senti mãos tocando meu rosto.
  - Jagi o que foi? - Perguntou Mark preocupado, a voz estava embargada e rouca, típica de quem havia acabado de acordar. E eu o fitei, abraçando seu corpo por impulso, e assim que enfiei o rosto em seu pescoço o cheiro de homem e o calor morno de seu corpo invadiu minhas narinas de maneira suave.
  - Eu só tive um sonho meio estranho. - Expliquei acolhida e Mark me embalou em seus braços.
  - Não foi um pesadelo? - Indagou e eu tirei meu rosto de seu pescoço para encontrar seus olhos me fitando preocupados. Neguei e então encostei nossas testas, apreciando a aproximação.
  - Foi só um sonho. - Reforçei e percebi que seu máxilar amenizou na rígidez. Aquilo me confortou de certa forma, que eu me senti em paz por um momento por saber que ele se importava comigo a ponto de não ter ficado irritado por tê-lo acordado no susto.
  - Acho que vou lá na cozinha, comer algo já que não vou conseguir voltar a dormir. - Comentei quando voltamos a nos acomodar um ao lado do outro e Mark acariciou minha cintura com o polegar, me lembrando de seu toque na noite anterior e da maravilhosa massagem que me deu antes de dormirmos.
  - Tudo bem, são cinco da manhã mesmo, acho que vou tomar um banho e mais tarde eu desço também pra vermos o pôr do sol juntos. - Propôs e eu não resisti em abrir um sorriso com a ideia.
  - Ok, estou indo então. - Avisei roubando um selinho demorado dele e em seguida me levantei preguiçosamente da cama.

  Desci as escadas de meia, sem me importar com calçado, ou então com a jeans branca e a regata que eu estava usando.
  Quando pisei na cozinha, dei de cara com a vista da janela em cima da pia que dava pro mar, ao longe dava pra enxergar as ondas se rebelando e rugindo enquanto os raios avermelhados anunciavam que o sol queria se erguer e declarar que já era dia. Era muito bonito, e a sincronia das ondas do mar, com o momento do nascer do sol faziam tudo aquilo parecer surreal demais para ser verdade. Como se fosse um quadro que se mexe. Isso me fez lembrar da minha primeira vez que vi o nascer do sol, eu estava com o BamBam na sacada do meu quarto, dava pra ver o mar de lá, e quando o sol surgiu eu achei que aquilo era um quadro. Bonito e delicado demais para ser algo que pertencia a um mundo tão disforme e bruto.
  - Sonhando acordada? - Uma voz surgiu atrás de mim e eu quase pulei o último degrau da escada em que eu ainda estava parada. Quando olhei pra trás avistei a Mallya sorrindo, com aquele característico ar de quem não conseguiu dormir porque queria resolver alguma pendência.
  - Fiquei com insônia... - Comentei indo até a geladeira enquanto ela terminava de descer as escadas e guiava um pote de sorvete vazio e duas colheres na direção da pia - E fome. - Acrescentei quando ela se livrou das coisas, e me abaixei para pegar o cereal, leite, sorvete e uma barra de chocolate que estavam numa prateleira baixa.
  - Só isso mesmo? - Indagou ela desconfiada vindo me ajudar com as coisas e eu fechei a geladeira com o pé fitando ela.
  - Na verdade eu acho que também podíamos investigar um pouco, o que acha?
  - Leu a minha mente.

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