16 - Segredos

320 53 14
                                    

  - Isso eu não sei. - Mark riu-se como se estivesse achando divertido o interrogatório, e eu respirei fundo exasperada. Não era exatamente isso que eu queria ouvir. E acho que talvez não seja isso que ele esteja me escondendo. Sinto que tem algo mais, algo pesado e podre que está vazando do esconderijo e escorrendo entre seus dedos como se fosse água de uma torneira ligada. O ar estava ficando pesado, e o calor que fazia ali dentro estava me deixando mais inquieta ainda. Já dava pra sentir a ansiedade subindo pelo meu peito e se alastrando por tudo dentro de mim.
  - Você sabe de alguma coisa Mark, eu preciso saber o que é. - Alertei tentando apelar para sua colaboração, mas ele estava impassível, demonstrando uma serenidade devastadora por fora, mas eu conseguia ver através de seus olhos a inquietação, o coração ficando cada vez mais calmo para disfarçar seu segredo, a ponto de nem mesmo um detector de mentiras capitar suas palavras e as acusar de alguma coisa.
  - Eu já te contei isso várias vezes Alícia. - Rebateu Mark controladamente calmo - Eu golpeei a minha mãe na sua frente, te tirei de lá e quando te deixei no hospital e fui atrás do corpo dela, minha mãe não estava mais lá. Não fui eu, e as bonecas não comem humanos, elas só quebram ossos. Eu não faço ideia do que aconteceu. - Esclareceu e eu bufei, indo até a parede e encostando as costas no gelado, tentando fazer o calor passar, estava quente demais, dava pra sentir uma fina camada de suor cobrindo a minha pele. Comecei a me abanar e desviei meus olhos de Mark para o barco que estava passando, com um casal distraído aproveitando a vida enquanto se intrigava com qual caminho escolher adiante para entrar na jornada de mistérios do túnel, tinham três caminhos, quase como um labirinto e haveriam três mistérios pra serem resolvidos, se você se perdesse na brincadeira da investigação se perderia no túnel. Eu e a Mallya já haviamos praticamente descoberto todos aos treze anos. Não haviam mistérios que não nos atraísse, ou então que não resolvessemos. E agora estávamos empacadas com o Gap Dong. Pela primeira vez desde que entramos nessa ideia de férias de cinco dias por contrato senti raiva. Eu queria investigar, e não podia porque isso me comprometia através do contrato. Haviam castigos duros de se sobreviver caso burlassemos o contrato, nesse caso eu e a Mallya não podíamos fazer nada, a não ser esperar o prazo encerrar. Mesmo que a raiva e a ansiedade estejam nos corroendo.
  - Talvez ela ainda esteja viva. - Comentei suspirando e voltei minha atenção a Mark ao ver o barco do casal indo embora - E você saiba muito bem disso, e talvez saiba de alguma coisa que ela faria... Talvez suspeite de algo. - Falei diretamente e olhei nos olhos dele, provocando sua paciência, se eu fizesse ele perder o controle, quem sabe conseguiria tirar alguma coisa útil de sua cabeça, uma confissão.
  - Para de inventar coisas Alícia. Eu não escondo coisas de você, se eu soubesse de alguma coisa já teria te contado, ou até mesmo pedido sua ajuda! - Rebateu Mark impaciente e eu contive meu sorriso ao perceber que estava tirando sua calma, continuei sustentando nossos olhares, como se estivesse o desafiando.
  - Talvez você até tenha entrado em contato com ela, ou vice versa, e ela tenha ameaçado me matar quando você não estivesse por perto, talvez seja por isso que você está sempre grudado em mim. - Provoquei e vi uma faísca passar pelos olhos dele, eu estava conseguindo, sem nem ter controle ele já estava confessando minhas suspeitas com seu próprio silêncio.
  - Para! - Alertou Mark vindo na minha direção, estava perdendo a paciência - Já chega de falar coisas de que você não faz ideia do que realmente é! - Ordenou me encurralando na parede, me prendendo dentro da prisão que havia proprocionado com os braços e eu levantei a cabeça por causa de sua altura, o suficiente para encontrar seus olhos que revelavam que ele estava fervendo por dentro.
  - Talvez... - Eu continuei, o desafiando, e senti uma de suas mãos no meu rosto, meu coração disparou e eu mordi meu lábio inferior antes de continuar, estava com tanto calor - O motivo de você ter me tirado do shopping daquele jeito... - Comecei a sussurrar, sedenda pelo ódio, sentindo uma intensidade avassaladora me dominar, eu queria agarrar ele, mesmo com raiva, sentir seus lábios, e essa energia pulsando era quase palpável no ar. A forma que Mark estava me olhando, como se quisesse me matar, ele seria mesmo capaz de perder a razão, justamente aqui onde pode entrar qualquer pessoa a qualquer momento? Seu polegar roçou de leve na minha bochecha, enquanto sua mão descia calmamente, senti seus dedos tocarem a minha garganta, tão suavemente que fez meu corpo estremecer de desejo pelo perigo - Foi porque sua mãe estava lá, não foi por causa do Jongup. Você viu sua mãe e tentou me levar de qualquer maneira pro carro pra me tirar de lá, me proteger dela. - Falei, olhando dentro de seus olhos e ele ficou frio, de repente Mark apertou a mão no meu pescoço. Calmo e decidido, me enforcando com uma única mão enquanto seus cabelos se convertiam pra vermelho.
  - Você tem que parar com isso! - Gritou ele entre dentes soltando a fúria que estava escondida e eu arquejei, sentindo minhas omoplatas se arquearem contra a parede úmida. Logo em seguida minha mão voou pro seu rosto. Um estalo que ecoou pelo túnel e fez meus dedos ficarem selados em vermelho em sua face.

PRISON IIOnde histórias criam vida. Descubra agora