122- Abrindo os Olhos

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  Pernas enlaçadas, lábios se roçando, podia sentir meus seios tão próximos do seu peito. Era sufocante cada segundo longe da boca dele.
  Quanto mais ele entrava dentro de mim, mais eu o queria, mais eu o desejava. A pele molhada de suor já estava fazendo parte do nosso envolvimento, eu não conseguia parar.
  - Mark... - Gemi quando mais uma onda de prazer irrompeu pelo meu ventre, estava grogue de um torpor tão viciante que parecia eterno demais para acabar. Respirei fundo, puxando de volta o ar que ia embora com a adrenalina, e quando abri os olhos, vi muito mais do que seus músculos se flexionando. Não era suor que pingava da nossa pele, era sangue, o cheiro intocável de corpos se lastrava numa velocidade incrível. E ao redor, até onde meus olhos alcançavam pude ver um mar de cadáveres embaixo de nós, uma atrás do outro, e minha mãe estava entre eles.
  - Não feche os seus olhos... - Ela sussurrou, e eu senti a espinha gelar, Mark continuava em cima de mim, mas eu já estava horrorizada demais pra acompanhar, ver o rosto pálido e cheio de vermes saindo dos olhos dela me deu ânsia, estava sentindo a bile quando notei que Mark agora havia se transtornado, não era mais meu homem, e sim uma caveira encapuzada, uma caveira de olhos negros e sem alma.
  - Eu avisei Alícia, eu sou seu pior pesadelo...!

  Abri os olhos sentindo o coração disparar tão rápido quanto eu peguei a arma na gaveta da cama e apontei pra ele. A silhueta reconhecível de quem deveria estar na cama ao meu lado, e não bisbilhotando um livro amaldiçoado de ninfas.
  - Tire as mãos dele. - Me pronunciei seca e impiedosa, destravando a arma.
  Mark, como se nem mesmo tivesse me notado, devolveu o livro ao fundo falso da gaveta como se nunca tivesse o tocado e então se voltou pra mim. A expressão no rosto impassível. Calmo e frio, calculando pacientemente a probabilidade de eu disparar na cabeça dele.
  - Eu devia estar ai, não é? - Ele indagou e riu fraco enquanto cruzava os braços e deixava a gaveta mal fechada. Estava fora de mim o bastante pra não ter me incomodado pela gaveta pela metade. - Acariciando seu cabelo enquanto te espero acordar, só pra poder dizer que amo você. - Foi um soco no estômago. Ele parecia sentimental e isso só me deu uma dor angustiante demais no peito pra acreditar que era real.
  - Sabemos muito bem que você não me ama Mark. - Retruquei friamente - Você é um psicopata.
  - E psicopatas não amam? - Ele me indagou arqueando uma sobrancelha e eu senti meu peito se apertar e doer, ele tinha matado minha mãe, ele tinha me matado por dentro, e eu tive tantos sonhos me alertando desde o começo, sempre tive um problema sério pra ouvir meus instintos, mas agora esse meu erro estava me doendo mais do qualquer coisa.
  - Psicopatas manipulam, tem obsessão e metas que batem não importa o que seja necessário pra isso.
  - É você tem razão. Eu matei muitos pra conseguir o que queria. - Ele confessou suspirando, mas o sorriso que tinha no rosto parecia desgastado, quase não sincero.
  - E por que? - Indaguei, com receio de saber o motivo e ele me olhou com pena. Meu dedo roçou o gatilho com tanta precisão que quase libertei a bala.
  - Você está sensível demais Alícia, agora comigo aqui até poderia entender se eu explica-se, mas depois que eu sair e a conexão estiver se desgastando você vai me repugnar como se fosse um rato. Não vim aqui justificar nada. Só vim por isso.
  Ele apontou pra gaveta, as palavras me chicoteando enquanto as lágrimas desciam rolando como pedras, pareciam gotas venenosas escorregando com ardor pelo rosto.
  Era uma dor tão insuportável.
  - Mas parece que a Mallya já sabia sobre o meu efeito sobre você. Não arriscou algo tão precioso sabendo o que eu poderia fazer se o tivesse em mãos agora.
  Não tinha mais palavras, já havia um nó tão grande e embolado na minha garganta que eu só conseguia sentir ele me tragar, me sufocando lentamente.
  - Eu não posso te matar Mark, isso me afetaria. - Falei engolindo o choro com sofrimento - Mas eu posso te mandar pra cadeia, e tenho certeza que você não curaria tão rápido pra me impedir.
  Quando terminei de falar as três balas já haviam saído, fazendo um estrago tão grande que eu senti a dor amarga trazer o sangue pra minha boca com satisfação. Eu queria que ele sentisse aquilo, queria que as balas nas duas pernas e no braço direito fossem tão dolorosos quanto a dor que eu estava sentindo agora. Eu precisava que ele sentisse o mesmo. Como era amargo e angustiante, e como parecia incurável e quebrado. Ele tinha que sentir.
  Disparei mais duas vezes, mas desta vez as balas atingiram a parede, passando a milímetros de sua cabeça. Me encolhi na cama, agarrando os joelhos e abraçando.
  O rosto perplexo dele já havia me dado pelo menos um pouco desse prazer da dor. O verdadeiro prazer misturado com tanto ódio.
  Segurei o soluço e peguei o telefone da escrivaninha, assistindo Mark cair no chão escorregando pela cômoda, e então me cobri com os lençóis da cama, eles já estavam se encharcando com o meu sangue. Eu disquei o número do meu pai.
  - Departamento de Polícia, delegado falando. - Ele atendeu no primeiro toque e eu encontrei a voz depois de engolir mais um pouco de lágrimas e dor, os ferimentos estavam começando a me afetar com intensidade.
  - Pai, - Eu soluçei, ouvir sua voz parecia doloroso, eu queria tanto um abraço, eu precisava muito de um - Eu peguei o Gap Dong de verdade.

PRISON IIWhere stories live. Discover now