117 - Cabeça com Chifres

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  - E ele esfaqueou o peito da vítima, o modus operante continua o mesmo, mas ainda estamos sem nenhuma evidência plausível sobre o caso, ele não deixou rastros outra vez... - Enquanto um legista falava eu e a Mallya nos abaixamos, perto do corpo da mulher no chão a minha frente, eu estava admirando tanto aquele trabalho, havia ficado belíssimo. Matar aquela mulher foi uma das coisas mais prazerozas que já fiz. Nunca mais terei de me reprimir por causa de alguém que acredita que sou humana de verdade. Gargalhei por dentro, tendo a cautela de continuar demonstrando minha frieza implacável por fora do corpo.
  Eu era o Gap Dong, e todos estavam me investigando, mas ninguém iria conseguir me pegar, porquê mais fácil do que não deixar evidências para um caso, é ser o detetive dele.
  Assim ninguém poderá caçar o próprio caçador. Inclusive depois do assassino ter matado a minha mãe, estou o mais longe possível de qualquer suspeita.
  Em deboche, me regozigei diante os pobres coitados que procuravam cabelo em ovo naquela cena, eu havia feito tão bem, que ninguém poderia me descobrir. Ninguém podia revelar a verdadeira identidade do Gap Dong.
  Os jornais aterrorizavam as pessoas na TV. As ruas estavam cada vez mais desertas. Era como se eu pudesse controlar perfeitamente o fluxo das pessoas na cidade, sempre assustadas, esperando quase em pânico quando atacaria de novo.
  - A gente vai pegar ele! - Mallya tentou me confortar, mas sua voz estava começando a ficar lenta e esquisita, quando de repente senti um tremor nos pés, ao olhar pra baixo o chão e meus pés... Tudo se dissolveu debaixo de mim, a Mallya estava derretendo como se fosse argila molhada e o céu nublado estava se distorcendo, cada vez mais úmido e escuro, até que me engoliu, levando prum lugar em um breu totalmente isolado, onde eu não podia ouvir nada, só o meu coração bombando no peito.
  Não era mais o Gap Dong, e não podia mais sentir toda aquela insanidade dentro de mim. Agora eu era eu de verdade, uma investigadora atrás do assassino da minha mãe, com os olhos cegos de provas. Enquanto apenas encarava uma parede branca no escuro.
  - Alícia...
  Pulei.
  Alguém havia me chamado pelas costas. Me virei lentamente e me deparei com uma escada enorme, tão tomada pela escuridão na parte superior que me detive de qualquer movimento ao notar que estava em um sobrado decrépito, cheio de putrefações e vigas de madeira cedendo.
  - Onde é que eu to.. - Me engasguei congelada quando escutei a voz da Mallya.
  - Alícia eu achei uma pista! Pegamos ele Alícia! - Pela vibração e o ânimo, estava na cara que era do Gap Dong que ela estava falando, o único problema é que ela estava lá em cima. Como eu faria para subir lá em cima...?
  Atônita, eu passei a mão na testa, estava molhada, eu conseguia sentirbo suor frio descendo pelas costas. A camiseta branca colando no busto todo molhado. Meu corpo todo estava tenso.
  Eu não queria subir lá.
  - Mallya... - Sussurrei mais frágil do que pensei que estaria - Aquele lugar era assustador, e não conseguia mais me lembrar como havia ido parar ali.
  Fui pra escada, o coração pareceu martelar quando subi os primeiros degraus. Respirei e subi mais dois, e quando ele rangeu minhas pernas entraram em curto, formigando meu corpo inteiro, resolvi subir maid rápido, mesmo com os degraus rangendo. Até chegar no topo, onde estava mais escuro ainda. Não havia nenhum feixe de luz, absolutamente nada.
  Até que de repente a luz acendeu, e de dentro da parede chifres e dentes afiados saíram, meu coração disparou e eu gritei.
  - Gap Dong..
  E então apagou tudo de novo, e de repente acendeu, e haviam mais cabeças, mais ossos e mais chifres e presas, cada vez mais surgindo, sussurrando, sibilando e gritando, num desespero tão grande que eu já conseguia sentir o pânico rasgando garganta acima e me sufocando.
  - Gap Dong..
  - Gao Dong..
  - Gap Dong..
  Gritavam e gritavam, todas as presas ao meu redor enquanto eu estava no meio daquele corredor, cada vez mais rápido, cada vez mais apertado, eu não aguentava encarar, meu coração parecia que ia sair pela boca, eu não sentia mais o ar entrando nos pulmões, estava sufocando angustiada.
  Passei as unhas no pescoço, arranhando em pânico, até começar a sentir a tontura, as vozes ficando abafadas, até aos poucos começar a sumir e tudo se apagar.

- Mallya on-

  Respirei fundo, mordiscando uma unha enquanto olhava pro chão, estava esperando a bendita acordar, fazia tanto tempo que ela não dormia mais que quatro horas que quando cheguei não podia acorda-la. Ainda mais por que não sabia como iria a encarar. Depois de tudo que Tae me contou, tudo que me mostrou. Não havia mais dúvidas que o Gap Dong sempre foi o Mark. O problema agora seria fazer a Alícia entender. Como o Tae disse, ela estava envolvida demais emocional e psicologicamente para simplesmente acreditar em palavras. E eu a conseguia bem o suficiente para saber que precisaria de provas. Provas reais o bastante pra ela crer...
  De repente despertei dos meus pensamentos com um som esquisito, parecia um resmungo, depois se transformou numa tentativa de respirar que falhou. Quase como se fosse automático olhei pra ela.
  - Gap... Gap Dong... - Alícia estava sussurrando, se arranhando na cama, patecia perturbada, balanlava a cabeça pros lados com bastante força e ficava prendendo a respiração, parecia até... Ela estava sufocando enquanto dormia!
  Na hora corri até a cama, Suguinha como se pudesse sentir pulou junto comigo pra cima da Alícia e eu comecei a segurar seus pulsos e a chaqualhar.
  - Alícia! Alícia acorda isso é só um pesadelo! Alícia acorda! - Gritei, mas ela começou a ficar vermelha, e depois a empalidecer, tão rápido que eu pude sentir sua pele gelando nas minhas mãos.
  De repente ela se encolheu agoniada e abriu os olhos, BamBam havia invadido o quarto as pressas a tempo de ver ela se jogar em cima de mim, assustada, tremendo e respirando muito fundo, quase como se tivesse desconhecido essa função a muito tempo. E então me soltou.
  - O que aconteceu? - BamBam perguntou preocupado, mas eu fui interrompida antes mesmo de pensar em responder.
  - Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... Gap Dong... - Ela começou a sibilar colocando as mãos nos ouvidos em desespero e olhando pras paredes com os olhos arregalados. Parecia que pelo medo dela ia começar a sair monstros de lá. Os olhos começaram a se encher de lágrimas e ela não parava de repetir.
  Ela estava horrorizada, totalmente em choque.

PRISON IIWhere stories live. Discover now