69 - Brincos de Ouro

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  - Alícia on-

  - Que ideia é essa que envolve uma moto? - Indaguei enquanto subia na garupa da moto já que a Mallya quem pretendia dirigir. Um frio no estômago já havia me tomado desde o primeiro instante que coloquei os pés fora da delegacia. Não sabia ao certo o que era, mas não queria ir até lá, e pelo fato dos meus instintos me clamarem pra não ir, que eu resolvi ir de uma vez.
  - Analisa comigo, - Ela começou ligando a moto, já dava pra perceber que o assunto seria extenso, e que nos levaria a algo grande.
  - Estou ouvindo. - Assenti colocando o capacete e assim que segurei na Mallya, ela saiu com a moto cantando pneu.
  - Foi muito idiota da parte do nosso suposto Gap Dong que ele matou uma mulher, tudo bem que pelo que soubemos ela era uma dançarina, se encaixa no padrão do segundo Gap Dong, mas ela não está em todos as características do padrão, a altura passa e o peso também, a proporção do corpo preferível não preciso nem comentar. - Ela foi dizendo e eu fui acompanhando, já entendendo onde ela queria chegar enquanto me esforçava pra não cair nas lombadas, não que a ex-pacata cidade de Helltown tivesse muitas, mas enfim...
  - Você acha que o lugar onde ele matou pode ter algum envolvimento com o que aconteceu? - Indaguei raciocinando junto com ela - Acha que tem algo que ele deixou lá de propósito pra gente? Acha que talvez ele queira se comunicar do jeito dele? - Não foi preciso confirmação, eu entendi que ela concordava quando acelerou a moto do irmão o máximo que podia.
  Nem foi preciso muito esforço já que as ruas estavam meio desertas, e conseguimos chegar ao local do último assassinato bem rápido.
  Descemos da moto, e encaramos o beco, haviam fitas amarelas pra todo lado e o local estava meio deserto como uma área de quarentena cheia de fita policial.
  - Desde quando os especialistas abandonam a cena de um crime? - Indaguei irritada tentando esquecer a tontura que me atravessou de repente e a Mallya tirou o capacete com desdém.
  - Desde que eles souberam que era obra do Gap Dong, não tem nada aqui pra eles, ele nunca deixa pistas. - Respondeu e eu fui passando por baixo das fitas, já invadindo a cena do crime com ela.
  - Onde será que ele deixou o presentinho...? - Parei na entrada do beco com uma sensação ruim no peito, e comecei a fitar uma marca de sangue no chão que estava lá no centro, eu estava ficando calada, o silêncio que havia tomado conta do local fez a Mallya perceber que eu estava insegura ali, mesmo com o revólver.
  Recebi um empurrão no ombro.
  - Vamos procurar , não vai ter nada que já não enfrentamos antes. - Ela disse, tentando de uma maneira mais meiga me acalmar, não funcionou, mesmo assim dei risada, e entrei de uma vez no beco.
  A dor foi tão forte, que eu não sabia se alguma faca havia atravessado meu pescoço de fora a fora, ou havia sido a cabeça, a Mallya caiu no chão comigo, tinha algo de errado. Muito errado ali.
  - O que é...? - O restante das palavras quase sussurrantes se perdeu em meio a minha confusão, eu conseguia sentir sangue, mas não era meu, e eu também conseguia sentir dor, mas não era minha.
  Um grito alto vindo do meio do beco me obrigou instintivamente a levantar a cabeça, parecia estar perfurando minha pele e rasgando meus órgãos por dentro, mas era só uma mulher, coberta por um sobretudo, reclamando de pensamentos que queria ajudar a amiga que estava machucada como consequência de um acidente de trânsito.
  Tentei puxar ar pra dentro dos pulmões e me engasguei, não vinha.
  - Então quer dizer que as duas vieram... - Escutei uma voz, mas estava tudo tão confuso ao meu redor, que mal conseguia identificar da onde vinha, mas não era da Mallya, ela, ao meu lado estava agachada, toda encolhida, com os olhos cerrados de dor.
  - Sempre soube que isso afetaria vocês... Mas nunca pensei que fosse o bastante pra nem mesmo escutarem minha voz corretamente. - Ele, sim era um cara, continuou falando, mas parecia estar debaixo d'água. Minha percepção estava mais do que falhando.
  - Aqui está o que vocês duas vão precisar para hoje a noite, quero as duas com eles, e se vocês não forem, ao invés de mais uma morte amanhã, eu darei dez ao departamento de Polícia. Dez filhinhas de padres e pastores pregadas em cruzes, nuas e defloradas... Soa como música... - Escutei uma gargalhada ritmada, e então passos, estava se afastando, mas eu conseguia sentir algo subindo em mim, passando devagar e sinuosamente pelo meu corpo. Minha mão foi pra arma, ainda não conseguia enxergar, por um momento minha visão que estava turva, escureceu de vez, mas eu ainda estava consciente.
  - Faca! - Escutei a voz da Mallya, parecia estar desesperada - Faca! Faca! Faca! Elas vão dar o bote assim que abrirmos os olhos! - Continuava insistindo e eu tentei assimilar, ainda dava pra escutar os passos do homem ao longe, quase inauditíveis.
  - Ela quem??! - Indaguei e senti meu corpo ser envolto numa camada grossa e asquerosa, eu conhecia aquilo, mas não lembrava o que era.
  - Não abre os olhos! - Escutei ela gritar, e quem gritou depois fui eu.
  - Mallya... - Eu já havia aberto, e uma cobra preta avançou no meu rosto com a boca escancarada e os dentes venenosos mirados de forma certeira.

PRISON IIWhere stories live. Discover now