Capítulo 2

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Levantei poucos minutos após o toque do despertador. Vesti meu uniforme folgado e sem graça. Era todo cinza e tinha uma lua cheia estampada na camisa com o nome do colégio escrito dentro da lua em letras góticas. Coloquei meus grandes óculos, fiz um coque desajeitado e sai do meu quarto para a refeição matinal novamente sem passar maquiagem ou quaisquer outros cosméticos. Isso era um adiantamento e tanto.

— Bom dia, vó! — Minha avó Nilza punha pãezinhos recém assados sobre a mesa. O aroma era incomparável fazendo-me salivar. Peguei um deles e comecei a mordiscar.

— Bom dia, querida! — Ela sorriu de forma terna e sentou-se ao meu lado.

Lembro-me do dia que minha mãe ligou para minha avó perguntando se eu poderia ficar com ela. Sem questionar os motivos pelo qual eu decidira vir para cá em vez de ficar com meus pais, ela me acolheu prontamente. Ligava para mim quase todos os dias para perguntar quando eu viria.

— Que desleixo! Assim não vai arranjar nenhum namorado! — Minha tia Angelina retrucou enquanto se aproximava com um pote de geleia artesanal de frutas vermelhas. Ela olhava para mim com o mesmo olhar de reprovação do primeiro dia. Era estranho para alguém que optou pelo celibato ficar pensando em namoradinhos para a sobrinha.

— É bem esse o objetivo. Achei que você fosse me compreender.

— Eliza... — Ela suspirou fundo antes de vir com outro sermão. Eu já estava farta deles ultimamente. — Eu não estou solteira porque quis. Eu só não encontrei o meu companheiro ainda.

"Talvez nunca encontre..." Pensei comigo mesma. Permaneci em silêncio esperando o que viria, mas ela não disse mais nada.

— Bem, talvez eu também não encontre o meu também. — Balbuciei enquanto me levantava da mesa. Eu realmente esperava não ter que me preocupar com esse tipo de coisa por um bom tempo. Dei um beijo na bochecha da minha avó e peguei minha mochila.

Como o colégio não ficava tão longe da casa da minha avó, eu fazia o percurso de ida e volta andando. Era um ótimo aquecimento para iniciar o dia. Durante o percurso, fiquei pensando nesse negócio de companheiro predestinado por um tempo e sobre como isso poderia ser inconveniente para alguém como eu.

"Talvez você seja como o seu pai e possa escolher!" — Disse-me Lisa tentando acalentar meus pensamentos.

— Assim espero... — Suspirei olhando para a porta.

Fui uma das primeiras a entrar na sala de aula. Coloquei meus fones e selecionei uma música do aplicativo no meu celular para ouvir enquanto esperava a aula começar. Embora o sinal de celular fosse forte, a internet nessa cidade era horrível. A música travava a cada poucos segundos e acabei guardando meu fone frustrada.

— Se quiser ouvir música aqui, você tem que baixar sua playlist com antecedência. — Uma voz feminina suave soou ao meu lado. Olhei para Annie surpresa que teríamos mais essa aula juntas. Desde que mexi na partitura dela ontem, ela não tornara a falar comigo.

— É, eu percebi. — Respondi de forma monótona desviando meu olhar e me agachando sobre a mesa.

— Obrigada por ontem! — Sussurrou em um tom envergonhado. Endireitei as costas e olhei para ela com mais atenção.

— Não precisa agradecer. Só tenta prestar mais atenção nas aulas agora. — Ela assentiu e sentou-se timidamente atrás de mim. Ela me acompanhou nas próximas aulas e percebi que nosso cronograma poderia ser exatamente igual.

— Já cogitou se inscrever para o clube de música? — Ela perguntou-me assim que o sinal do intervalo de almoço tocou.

— Não! — Respondi sucintamente enquanto eu me dirigia para o refeitório da escola. Clubes de música acostumam ter muitos integrantes, o que me deixaria desconfortável. Irritantemente Annie não entendeu minhas cortadas e começou a me seguir.

"Parece que já conseguiu uma amiga. E essa história de tentar passar despercebida?" Minha loba implicou comigo. Revirei meus olhos enquanto me servia e depois me sentei na mesa mais isolada, no canto mais isolado do refeitório.

"Viu? Hahahaha" — Disse-me quando viu que Annie sentou-se de frente para mim e ainda gesticulou para outra pessoa que viesse se sentar conosco. Quase engasguei quando percebi que não era só um, mas um grupo inteiro vinha andando em direção à minha mesa.

O primeiro homem do grupo, era alto, de cabelos e olhos castanhos e pele em tom médio. Ele se sentou à mesa passou as mãos nos cabelos de Annie com carinho e lhe disse:

— Oi, minha linda!

— Olá! — Respondeu Annie com as bochechas rosadas e o olhar apaixonado. — Liam, essa é a Eliza, a garota que me ajudou com a partitura.

— Oi, Eliza. Sou Liam, o companheiro da Annie. — Ele respondeu com um sorriso simpático enquanto envolvia um dos braços nos ombros de sua namorada. Fui ficando enjoada com a cena melosa...

Ele apontou para o lado, para outros três rapazes que vieram com ele. Os dois primeiros sentaram-se ao lado dele enquanto me cumprimentavam.

— Estes são Jonathan, Maxsuel e Nicolas.

Acenei-lhes educadamente com a cabeça sem dizer uma palavra. Por não caber no mesmo banco que os seus amigos, Nicolas, um rapaz mais alto, de pele escura, cabelo preto curto levemente encaracolado e olhos castanhos claros sentou-se ao meu lado, respondendo silêncio com silêncio.

— Não liga para o Nicolas, ele não está num bom dia. Eliza, você parece entender bem de música. O que acha de ajudar a banda? — Disse-me Liam em um tom um pouco mais sério.

— Não entendo tão bem assim. — Respondi com poucas palavras, me focando em terminar minha comida para sair o mais rápido possível daqui. — Além disso já me matriculei no clube de arco e flecha.

— Olha que coincidência, Nicolas. Parece que a novata está no mesmo clube que você. — Jonathan disse em tom de deboche. — Qual é, Liam! Perda de tempo!

— Ela pode nos ajudar com as partituras. — Intercedeu Annie como se quisesse ajudar a convencê-los que era uma boa ideia me ter no grupo deles.

— Por que vocês não pegam as partituras na internet? — Questionei-os levantando-me e deixando a mesa.

— A internet por aqui não colabora em nossas pesquisas. Se fosse fácil fazer isso não estaríamos pedindo isso a alguém como você. Não seja arrogante! — A voz de Nicolas era grave e potente fazendo-me olhar para trás. Inesperadamente percebi que as pessoas ao redor do refeitório começaram a me encarar com desdém. O meu inferno neste lugar estava prestes a começar. 

Destino: O herdeiro AlfaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora