Capítulo 91

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O céu parecia querer desabar. O vento que agitava as folhas das árvores estava cada vez mais forte. Havia uma tempestade a caminho, que só não era maior do que a tempestade em meu coração. Quis suportar o peso das minhas escolhas, quis acreditar que haveria um caminho melhor e que eu só precisava aguentar mais um pouco, e mais um pouco, e mais um pouco...

Agora eu estava presa neste destino de rejeição e dor. Eu corria, corria desesperadamente, tão rápido quando minhas pernas o permitiam. O vento estava cada vez mais forte, e por mais irresponsável que fosse correr na floresta com um temporal iminente, eu precisava encontrar a minha própria nota de esperança.

Meu coração me levou até lá, até a cachoeira em que tantas vezes vim buscar a companhia das águas, no lugar em que um homem misterioso que eu não conhecia me abraçou e me confortou em uma das noites mais tristes e sombrias de toda a minha vida. Sua energia já cobria as águas, como se estivesse me esperando como sempre, o que me fazia acreditar que ele precisava tanto de mim quanto eu dele. Mesmo que fosse estupidamente egoísta pensar assim, eu precisava me firmar nesse sentimento ou não me restaria mais nada.

— Oi, eu preciso te ver! Preciso muito te ver de verdade! — Meu coração estava transtornado, enquanto minhas lágrimas insistiam em descer e cair na água. — Por favor, eu sei que está aí, precisa estar...

O tempo estava se fechando rapidamente. A escuridão estava tomando todo o ambiente. Nesta noite escura que se iniciara, tudo que se podia ver eram raios monstruosos atravessando o céu ao som de trovões.

Neste momento, a dor era tão grande que eu não conseguia ouvir mais nada, nem o meu coração, nem minha mente e nem mesmo Lisa. Eu chorei compulsivamente, até que as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Foi quando decidi que preferia morrer a ficar presa nessa dor.

— Você mora do outro lado da barreira, não é? Se não pode vir, será que posso ir até você? — Mesmo sabendo a loucura que seria tentar atravessar a barreira, mesmo sabendo que eu provavelmente morreria ali, eu precisava tentar. Pagaria o preço que fosse para me libertar. — Espero conseguir atravessar, então por favor, espere por mim!

Foi quando tomei forma de lobo e tornei a correr, minha mente completamente enevoada era incapaz de pensar agora. Corri tanto que a exaustão me tomara por completo, eu estava ofegante, sem forças, me forçando a dar um passo após o outro. A barreira estava perto, eu podia vê-la a distância, como um véu negro que desfocava completamente a paisagem ao qual ela se estendia.

A noite estava em seu auge. Meus pelos estavam enxarcados pela chuva que caia torrencialmente. Eu só queria alcançar a minha liberdade, ir para um lugar em que o William nunca mais me encontraria.

"Eliza, não faz isso! Me desculpa! Eu não vou pensar mais nele, não vou te fazer mais gostar dele! Eliza, eu rejeito o nosso companheiro, do fundo do meu coração." Eu ouvia Lisa choramingando por dentro. Ela estava apavorada, mas suas palavras não me alcançavam. Minha consciência estava em um completo estado de torpor.

"Os guardas nas fronteiras não nos verão fácil no meio da tempestade, não é? É o melhor momento!"

"Eliza! Eliza!" — Ela clamava por meu nome, mas a única coisa que eu sentia agora era a densa energia que separava meu mundo do outro. Em meio à tempestade, uma árvore tombara contra a cerca abrindo uma brecha não tão longe de onde eu estava. Usando-a para passar pela cerca, evitei as armadilhas e me aproximei do véu negro o máximo que consegui.

A pressão de simplesmente me aproximar era tão grande que parecia que eu ia enlouquecer. Pensei comigo mesmo que se eu fosse rápida o suficiente, talvez eu pudesse chegar ilesa ao outro lado. Afastei-me alguns passos, respirei fundo, peguei impulso e comecei a correr.

Destino: O herdeiro AlfaWhere stories live. Discover now