P2 - Capítulo 36

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O que eu sou? De acordo com Willow, sou nada mais nada menos que a última bruxa de linhagem ancestral. Há dois tipos de bruxas, as hereditárias e as ancestrais. As bruxas hereditárias são as que herdam a natureza da mãe de forma fixa e contínua. Uma bruxa do fogo sempre dará origem a outra bruxa do fogo, uma de água a uma bebê com poderes de água e assim por diante. As bruxas ancestrais, por outro lado, são capazes de obter qualquer tipo de origem através de semeadura e cultivo, que ocorre ao longo de gerações.

Esse foi o motivo pelo qual meus antepassados não são bruxas. Elas carregaram a semente, a cultivaram e a passaram adiante. Gerações sem poderes são fundamentais para o crescimento da semente, mas apenas florescerá e dará frutos nas mãos de quem adubá-la o suficiente para fazê-la frutificar. O adubo é a chamada devoção, e é necessário coletar muita energia do tipo para que a semente cresça e desabroche.

Há mais de um motivo pelo qual Lohan jamais cogitou que eu pudesse ser realmente uma bruxa. O primeiro é que bruxas ancestrais estavam teoricamente extintas desde a última grande guerra que ocorreu há quase treze mil anos atrás. A guerra foi apenas o término do extermínio das bruxas ancestrais, que começou muito antes disso. Temidas por seus poderes, as sementes das bruxas ancestrais eram destruídas quando estão em fase de semeadura. As gerações sem poderes de bruxa eram as mais vulneráveis, e foram através delas que tal poder foi teoricamente dizimado.

— Levei mais de mil de anos tentando rastrear uma semente, na esperança de que esse poder não havia se perdido.

— Cian, não é? — Perguntei seguindo o raciocínio. Ela confirmou imediatamente.

— Cian era da linhagem de uma bruxa ancestral, a última esperança de recuperar o elemento mágico perdido, a luz. Ele é a quarta geração que acompanhei e ajudei a proteger. Como precisei me envolver, não conseguiria manter a semente em segredo por muito tempo.

— Por isso sugeriu enviá-lo como emissário ao outro mundo? Para mantê-lo seguro e escondido? — Perguntei intrigada. As histórias sobre como obtive meus poderes me prendeu muito mais do que achei que faria.

— É apenas um dos motivos. — Comentou Willow sorrindo. — O outro foi minha a contribuição real para o projeto de Lucon. O efeito colateral da perda de memória pela fenda artificial era irremediável e eu tinha plena ciência disto. Admito que enganei os reis no objetivo de levar a última semente desse mundo ao outro, mas foi uma mentira nobre e necessária. Se meu plano oculto ocorresse conforme deveria, algum dia uma bruxa poderosa nasceria e criaria a brecha para tornar o projeto de Lucon possível.

— Mas quem criou a brecha não fui eu, foi o Lohan, e por causa da minha loba.

Willow começou a rir de forma divertida e isso me deixou muito desconfortável!

— Filha, não se iluda! Não foi o Lohan que criou a brecha na pedra de invocação. Como precursora do projeto, fui a responsável por todas as inscrições mágicas. Quando vi uma transcrição no ponto de chamado gerado por magia de luz eu soube, no mesmo instante, que a semente tinha desabrochado.

— Mas eu não fiz nada! Eu nem sei usar magias! — Retruquei.

— A magia de uma bruxa é movida pelo desejo. Dentro de seu coração, você queria estar desesperadamente com o homem que estava do outro lado, e o seu poder agiu para realizar o seu desejo. Isso é algo fácil de se comprovar.

— Como? — Desafiei-a.

— Alguém mais além de Lohan consegue atravessar para o outro lado? — O questionamento de Willow foi certeiro. Se não bastasse, ela fez outra pergunta ainda mais instigante. — Lohan consegue atravessar sempre quando quer?

Destino: O herdeiro AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora