Capítulo 58

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Havia uma agitação muito grande e muitos murmúrios no salão. Não pensei duas vezes em sair correndo para longe, antes que essa história respingasse em mim de alguma forma. Temia que quisessem me acusar de algo e eu já estava atolada até o pescoço com problemas.

Eu poderia estar errada, mas preferi não arriscar. Parecia que eu me tornara um imã de problemas, quando tudo despencou de uma vez em cima de mim. Tirei minhas sandálias e segurei a saia do meu vestido. Eu tinha por mim que deveria correr até me sentir segura.

"Lisa, me responde!" — Implorei. Ela não queria correr comigo e também não forcei. Me acovardei em tomar a forma de lobo, sabendo que todos os sentimentos e dores de Lisa viriam com força quando eu o fizesse. Eu já não suportava nem a minha própria dor mais, então como poderia ainda absorver a dor que vinha dela?

Deixei minhas sandálias para trás assim que entrei na floresta. Todo o vazio em meu coração parecia se transformar em um buraco negro que estava me consumindo pouco a pouco. Eu só queria jogar para fora toda essa energia negativa e encontrar um pouco de paz. Meus pés estavam doendo, estavam feridos pelos pedregulhos e galhos que pisei pelo caminho. A dor física era reconfortante, me fazia sentir que ainda estava viva de alguma forma.

Só parei no momento em que alcancei a cachoeira. O vestido grudara em todo meu corpo devido ao suor. Algumas mexas do meu penteado se desprenderam. Aproximei-me e mergulhei meu rosto na água. Meu coração acelerado me dizia que o senhor fantasma estava aqui, e isso foi o suficiente para toda a dor que havia em meu peito explodir de uma vez só. Retirei o rosto da água e gritei com todas as minhas forças. As lágrimas desciam torrencialmente pelo meu rosto.

Assim que a primeira onda de dor começou a se dissipar, olhei para o céu. O tempo estava nublado, frio e escuro. Comecei a tremer enquanto tentava controlar a minha respiração.

— Parece que não poderemos ver o eclipse juntos, senhor fantasma. O tempo não está ajudando. — Falei para a água, tentando forçar um sorriso. — Aconteceram tantas coisas...

Eu queria falar sobre coisas boas para o senhor fantasma, mas apenas memórias ruins me vinham a mente. Minha avó me expulsou de casa, meu melhor amigo não estava falando comigo, meu companheiro tornou a me humilhar da pior forma possível, ficando com outra garota bem na minha frente. O que mais podia dar errado?

— Faz um tempo que não venho, mas sinto dizer que não sou uma boa companhia hoje. — As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto mais uma vez. Permaneci chorando silenciosamente. Eu não queria voltar. Tudo bem ficar aqui, eu não tinha ninguém em casa me esperando mesmo.

Olhei para a cachoeira por um tempo. Tanto a barraca quando os sacos de dormir e as outras coisas que vim trazendo estavam escondidas ali dentro da caverna. Achei que era o melhor lugar para guardá-las.

— Senhor fantasma, caso não se importe, poderia se virar um pouco? — Pedi enquanto abria o zíper do meu vestido. Deixei que ele caísse sobre os meus pés antes de saltar na água e nadar até a queda. A água estava muito gelada e senti meus pés escorregarem quando tentei subir até a caverna.

— Definitivamente não volto para a água de novo. — Falei comigo mesmo enquanto me arrastava para dentro da caverna. A escuridão era total e eu não via um palmo à minha frente. Meu corpo estava trêmulo demais. O fato de eu não querer usar a energia da minha loba fazia tudo ficar pior.

Assim que alcancei as minhas coisas, a primeira coisa que peguei foi a minha lanterna. Eu precisava de um pouco de luz. Depois peguei uma sacola, abri-a retirando uma toalha de dentro. Tirei as minhas roupas íntimas que estavam molhadas jogando-as de lado antes de me enrolar na toalha. Puxei o saco de dormir e me enfiei dentro, esperando que meu corpo recuperasse um pouco de calor. Minha consciência aos poucos foi se esvaindo enquanto eu chorava desesperadamente. Aos poucos fui adormecendo.

Destino: O herdeiro AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora