Capítulo 56

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Tudo na minha cabeça era um som agudo ecoando no fundo da minha mente. Comecei a sentir falta de ar e procurei desesperadamente pela música. Lisa me abandonara, e agora a Preciosa estava destruída. Eu estava em crise. Quando comecei a ter um vislumbre de novo do que acontecia à minha volta, já estava escuro.

— Quando tempo estou assim? — Minha cabeça estava girando. Encostei-me contra a cama e me concentrei em ouvir os sons. O silêncio indicava que não havia ninguém em casa. Tirei o meu celular do bolso da calça. A tela estava trincada, mas parecia estar funcionando. Só havia uma pessoa que poderia esclarecer tudo o que acontecera. Após algumas tentativas persistentes, ouvi uma voz familiar do outro lado que me fez ter vontade de chorar.

— Mãe, sou eu! — Falei-lhe. — Mãe me ajuda, por favor!

— Filha, o que aconteceu?

— Eu contei para a vovó do papai e ela surtou. Eu não sei o que fazer. Mãe.... — Comecei a chorar novamente. A dor era demais para eu suportar.

— Você fez a única coisa que eu disse para não fazer. Filha, de toda Siram, ninguém odeia mais o povo de Arches do que a sua avó.

— Por que, mãe? — Perguntei entre soluços. O que eu faria agora?

— Filha, eu me preocupo com você, de verdade. Se te pedi para esconder isso é porque te amo. Não queria que você passasse pelo mesmo que eu passei. Eu sei que não sou uma boa mãe, mas é que não tive boas referências.

— Por que diz isso? — Eu estava confusa. Vovó sempre foi tão boa comigo. Como ela poderia não ter sido boa para minha mãe? Eu era incapaz de compreender isso.

— Quando sua avó era jovem, ela morava com os pais em uma pequena chácara no interior, próximo ao vilarejo Ulian, que é próximo às fronteiras com Soriar. Na época ela já conhecia o seu amado companheiro, seu avô Julian. Eles estavam noivos e ela saiu sozinha de casa em direção ao vilarejo para se encontrar com ele. Durante o percurso, ela encontrou um fugitivo de Arches que a interceptou e a violentou. Filha, não há nada mais doloroso para uma loba do que ser violada por alguém que não é o seu companheiro e ela carregou essa dor não só nas suas memórias, como também em seu ventre. Esta sou eu.

— Você? Então você não é filha do vô Julius?

— Não, filha. Para a sua avó, sou apenas um lembrete desse dia cruel. Julius quando soube o que tinha acontecido, não só confortou sua avó Nilza, mas deu-lhe todo o amor que precisava para superar o que aconteceu. Mais do que isso, ele assumiu a paternidade da criança e me tratou como se eu realmente fosse sua filha. Apesar disso, sua avó nunca me aceitou. Ela era sempre cruel comigo, me castigava sem motivos e quando o fruto de seu amor com Julius nasceu, sua tia Angelina, ficou ainda mais evidente seu desprezo por mim pela grande diferença com que ela nos tratava. Angelina sempre teve o melhor, enquanto fui tratada por ela como lixo. Se não fosse o seu avô Julius, não sei o que teria acontecido comigo.

— Então é por isso que você não queria mais ver a vovó depois que o vovô morreu? — Perguntei. Eu achava que a mamãe era uma pessoa fria e insensível, que tinha abandonado a própria mãe, mas desde o começo foi o contrário.

— Eu não tenho o sangue de Julius, mas ele foi como o meu pai e ele em especial te adorava, filha. Você era a única neta da família, o que levou Julius a ter um sentimento muito especial por você. Esse sentimento que seu avô tinha por você foi o motivo da sua avó te aceitar e te amar também. Eu só te levava para Siram para visitar os seus avós devido a consideração que eu tinha por ele, mas depois que Julius se foi, não havia mais sentido. Para a sua avó, eu não ir vê-la é um favor.

— Como que eu não vi isso antes, mãe? Por que não percebi que a vovó não gostava de você?

— Filha, sua avó alguma vez já perguntou por mim? — A pergunta da mamãe me pegara desprevenida. Em todo esse tempo, vovó nunca perguntou sobre ela, mas só agora eu conseguia enxergar o quão errado estava isso.

Destino: O herdeiro AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora