Capítulo 15

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Minhas pálpebras pareciam insuportavelmente pesadas, implorando por um sono que eu não podia me dar ao luxo de ter. Nesse meio tampo, a bateria do meu celular já tinha acabado e caso William não aparecesse, eu não poderia mais pedir socorro a ninguém. Será que fiz a escolha certa em ter ligado para ele?

Rastejei alguns centímetros para frente forçando a ferida a voltar a doer. A dor é a única coisa que ainda me mantinha acordada. O vento começara a ficar gelado, sinal de que a tarde em breve daria lugar a outra noite fria e escura.

Quando os meus olhos começaram a se fechar de novo, ouvi passos se aproximando em alta velocidade. Quando dei por mim, um imenso lobo com coloração de um castanho avermelhado estava de frente para mim. Meu coração batia muito rápido me acordando completamente do torpor que eu me encontrara anteriormente. Um misto de sentimentos e reações faziam meu estômago borbulhar de ansiedade.

Elevei o meu olhar e quando os olhos de nossos lobos se encontraram, ele deixou cair no chão uma bolsa que carregava na boca. O cheiro dele na forma de lobo era ainda mais forte, me deixando em êxtase por causa dessa merda de maldição que me ligava a ele.

O lobo começou a me rondar enquanto assumia novamente forma humana. Fechei meus olhos para evitar vê-lo nu e esperei que se pronunciasse. Inesperadamente, sua mão agarrou a minha pata ferida e a puxou para cima me fazendo uivar de dor. Acabei por abrir os meus olhos para encará-lo e rosnei para ele para mostrar o meu descontentamento.

— Não se mexa! — Ordenou. Seus olhos pareciam serenos e pacientes, muito diferente do habitual William que eu conhecia. — Preciso ver suas feridas para saber qual remédio te dar.

Eu não tinha muitas opções. Obedeci e virei de lado para que ele pudesse visualizar melhor as áreas na qual eu tinha sido golpeada. Acabei observando-o com mais atenção. Diferente de como imaginei ele não estava nu. Usava uma bermuda que ia até os joelhos de coloração idêntica ao seu pelo e isso era algo no qual eu apenas ouvira falar. Tudo o que eu sabia sobre essa vestimenta é que era costurada por alfaiates sagrados usando o pelo do próprio lobo. Ela desaparecia na transformação e reaparecia sempre que o lobo tornava a forma humana e era algo exclusivo da elite dos lobos.

Sem ousar a me tocar, os olhos dele foram de encontro ao ferimento na minha barriga e o percebi franzir a testa pensativo.

— Vou precisar que volte a forma humana para tomar os medicamentos.

De jeito nenhum! — Pensei comigo mesmo rosnando para ele.

— Não trouxe comprimidos suficientes para a sua forma de lobo. — Explicou-se.

Intensifiquei meu rosnado. Se eu tivesse forças para colocar minhas roupas eu poderia pensar a respeito. Ele respirou fundo e foi até a bolsa dele pegando um tecido preto. Abrindo o tecido esticou sobre a minha loba, cobrindo a maior parte do meu corpo e depois se afastou alguns passos ficando de pé de costas para mim. Após essa demonstração de bom senso, não tive escolha a não ser voltar a forma humana, me enrolando como podia na capa.

— Você sabe usar isso? — Ouvi sua voz entoar ainda sem se virar. Seus olhos miravam meu arco pendurado na árvore.

— Digamos que minhas habilidades dão para o gasto. — Respondi com a voz fraca e rouca. Isso o fez se virar imediatamente. Com movimentos ligeiros, me puxou para os seus braços e terminou de me embrulhar com o tecido. Depois sacou alguns comprimidos específicos entre os vários remédios que trouxera e os colocou na minha boca. Percebendo minha dificuldade de engolir, tirou da bolsa um pequeno cantil de água e o levou a minha boca. Estava realmente preparado para me socorrer, o que me comoveu de certa forma.

Destino: O herdeiro AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora