Capítulo 11

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O telefone não parava de vibrar sobre a minha escrivaninha na última hora. Não me importei em me levantar para atender quem quer que fosse. Permaneci deitada na cama olhando para o teto enquanto Lisa absorvia meus sentimentos para si. Em troca, eu absorvia a dor dela e descartava como lixo.

Eu não conseguia chorar, na verdade, não sentia absolutamente nada. Aos poucos peguei no sono e adormeci. Não acordei de madrugada para treinar como fazia, invés disso, acordei com minha tia me sacudindo.

— Eliza, se arrume ou vai se atrasar para a aula! Além disso, seu amigo veio te buscar.

— Meu amigo? — Respondi um pouco confusa enquanto tentava me levantar. Lisa estava quieta dentro de mim, mas eu a sentia um pouco mais calma e composta.

Coloquei o meu uniforme, penteei os cabelos rapidamente e peguei a mochila no canto. Não estava a fim de perder muito tempo me arrumando hoje. Assim que abri a porta, notei o riso singelo da minha avó enquanto conversava com alguém. Assim que me aproximei um pouco, vi Nicolas sentado à mesa mordiscando um pãozinho recheado e tecendo elogios.

— Sempre amei seus pães, dona Nilza. — Disse ele.

— Então coma mais! Prove esse aqui também... — Eu não me lembrava de ter combinado nada com ele. Voltei sorrateiramente para o meu quarto antes que me vissem e peguei meu celular sobre a escrivaninha.

Havia incontáveis ligações perdidas no meu celular, muitas de Annie mas a maioria de Nicolas. Depois passei o dedo para o histórico de mensagens e pulei para o a última da lista:

"Eliza, estou preocupado. Se não me responder, passo amanhã cedo na sua casa para te pegar!"

— Ah não... — gemi.

— Eliza, vem logo! — Gritou minha tia agora junto com eles e não tive escolha. Reuni coragem e me aproximei da cozinha desejando bom dia a eles.

Fiquei em silêncio e senti o olhar de Nicolas sobre mim o tempo inteiro enquanto eu comia, o que me fez perder a fome.

— Vou indo. Até mais tarde! — Falei para minha tia e minha avó. Nicolas segui-me de perto e abriu a porta do carona da picape dele deixando claro que queria me levar.

— Você parece conhecer bem minha avó. — Disse a ele enquanto ele punha o cinto e dava ignição no carro.

— Eu e minha família somos clientes antigos da sua avó. Os pães dela são os melhores da cidade. — Explicou-se.

— Entendo. — Respondi.

— Você está bem? — Ele me perguntou com os olhos fixos no meu rosto. Senti que não sairíamos daqui se eu não o respondesse.

— Estou. Por que não estaria? — Ele claramente não acreditou em mim.

— Annie veio correndo me avisar o que aconteceu. Se eu soubesse eu não teria deixado o meu primo...

— Seu primo? — Interrompi-o. — William é o seu primo?

— De segundo grau, mas sim. — Ele respondeu em voz baixa. — O que ele te fez?

— Me expulsou da casa dele de forma rude. É isso! Se você for para algum evento em que aquele brutamontes estiver, não me chame! — Deixei escapar minha irritação.

— Desculpa! Se eu soubesse...

— A culpa não é sua, não se preocupe.

— A gente podia faltar hoje, ir para um lugar conversar com calma, espairecer... — Sugeriu.

— E manchar meu histórico perfeito com uma falta? Nem pensar! Vamos, por favor! Não quero me atrasar.

O percurso foi confortavelmente silencioso. Olhei para as nuvens no céu. Parecia que ia chover. Enquanto Nicolas estacionava no pátio do colégio, suas mãos se apertaram no volante abruptamente enquanto olhava o espelho retrovisor.

— O que foi? — Perguntei enquanto olhava para trás tentando entender a reação dele. Um carro esportivo preto passava por trás, estacionando do lado oposto.

— Nada! Vamos? — Nicolas saiu rapidamente do carro contornando-o. Gentilmente abriu a porta para mim e a fechou assim que sai, colocando uma mão nas minhas costas enquanto andávamos. A firmeza do toque dele mostrava que ele estava com pressa. Senti como se o tempo tivesse ficado mais frio, enquanto apressava meus passos seguindo o ritmo que ele impôs.

— NICOLAS! — Chamou uma voz autoritária por trás de nós enviando arrepios por todo o meu corpo. Todo o meu ser agora reconhecia aquela presença, então eu não queria me virar, muito menos olhar para ele. Quão grande era o meu azar para topar com ele tantas vezes em questão de poucos dias?

— O QUE FOI SUA ALTEZA? — Gritou ele devolvendo no mesmo tom.

Ouvi passos apressados em nossa direção e o cheiro daquele homem foi ficando cada vez mais forte. Respirei fundo, controlando aquelas estranhas emoções que começavam a emergir dentro de mim.

— Nicolas, precisamos conversar.

— Eu não tenho mais nada a dizer. Tudo que eu queria falei ontem. Se precisar dizer algo mais não é para mim, é para ela.

— Certo! Então me deixe a sós para pedir desculpas a ela devidamente. — Virei minha cabeça ligeiramente espiando aquele homem por cima do ombro, incrédula com o que eu acabara de ouvir.

"Ele vai se desculpar com a gente" — Senti minha loba se animar.

"Não confie! Certeza que é uma cilada." — Respondi de volta em pensamento. Os olhos daquele homem continuavam frios enquanto me encarava sem qualquer sinceridade ou respeito devido.

— Ficarei por perto. — Nicolas disse-nos e depois voltou-se especificamente para mim. — Se ele disser qualquer besteira me avisa que eu esmurro a cara dele.

— Como se você fosse ter coragem. — Sussurrou William, enquanto o via se afastar e se posicionar próximo à construção do colégio.

— Seja rápido! — Pedi ainda sem olhar para ele. As poucas pessoas que ainda passavam no pátio estavam com tanta pressa que nem nos notavam. — Estou atrasada!

— É essa a forma com que se dirige ao seu futuro alfa? Não sabe que quem determina as coisas aqui sou eu? Afinal, que tipo de mulherzinha você é? — Ele se aproximou enquanto falava e sussurrou a última frase perto do meu ouvido. — Viu que com o herdeiro alfa ia dar em nada e foi atrás do meu primo. Isso é descaramento demais! Fique longe dele!

— Nicolas é meu amigo e você não tem nada a ver com isso. — Virei-me finalmente para ele. Nossas faces ficaram próximas o suficiente para eu sentir a respiração dele sobre minha pele. — Não tenho interesse algum em títulos. Vamos fazer um favor um para o outro, certo? Fique longe de mim que eu ficarei longe de você. Parece um acordo justo, não?

— Devo te expulsar desse colégio então? Facilitaria as coisas. Não sei porque a diretora foi abrir espaço para uma megera como você. Sua fracote indigna!

Ele não suportava ser contrariado e partia para insultos cada vez piores. Ai que vontade de bater nele! Certamente ele que não era uma pessoa digna para mim.

— Como eu? Acha mesmo que me conhece? Se eu sou tão repugnante e pouca coisa para você rejeite-me agora se for capaz. REJEITE-ME! — Elevei minha voz desafiando-o o que o fez se calar.

Preparei Lisa para suportar uma rejeição, mas será que ele fizera o mesmo com o seu lobo? Ele teria coragem de destroçar os sentimentos do seu lobo e suportar o peso dessa decisão?

— Parece que o fracote aqui é você! — Dei as costas e andei em direção ao colégio. Não é só ele que eu queria deixar para trás, mas essa história mal começada.

Em meus sonhos, um homem bom e romântico se empenharia em me conquistar com afeto e atenção, e provaria seu amor por mim. Em troca ganhei um vínculo com alguém que me menosprezava. Que maldição! Afinal de contas, o que eu fiz para ele me tratar dessa forma? Eu não poderia rejeitá-lo eu mesmo por um motivo bem simples. Ele seria o alfa! Rejeitar o futuro alfa do clã era passível de penalização grave. Isso tinha que vir dele.

Destino: O herdeiro AlfaWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu