P2 - Capítulo 32

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Já era a décima vez que Lohan estava me examinando de forma impaciente. Seus olhos lacrimejavam enquanto um rosnado desesperado escapava de sua boca. Eu não sentia raiva, nem mágoa, mas havia apego suficiente dentro de mim para que me negasse a procurar uma saída para o mundo além.

— Vou ser o fantasma que vai puxar o seu pé de noite! — Falei em seu ouvido. Obviamente ele não me ouviu. Sua respiração estava pesada enquanto averiguava mais uma vez minha pulsação. — Não sabe reconhecer um cadáver?

— Estou aqui, Majestade! — Proferiu o médico de confiança do Lohan assim que adentrou a sala.

— RÁPIDO! — Gritou Lohan. — Preciso saber o que está acontecendo? Por que ela desmaiou?

Havia muita dor e desespero, tanto na sua voz, quanto em seu olhar. Isso só foi aumentando à medida que mais e mais pessoas apareciam para me examinar. Aparentemente eu ainda estava viva, mas minha respiração e batimentos cardíacos estavam lentos.

— Se estou viva, por que estou fora do meu corpo? — Perguntei para a anciã que viera mais tarde. Já era tarde da noite quando ela chegou, mas estranhamente eu via tudo tão claro como se ainda fosse dia. Assim como todos os que vieram antes, ela não parecia me ver ou ouvir.

— Receio que ela não vá mais acordar! — Ela foi a primeira que deu uma resposta negativa. — Seu corpo astral perdeu a ligação com o corpo mortal. Este é um corpo sem alma.

— Parece que a velha sabe de algo. — Sussurrei comigo mesma. Rodeei ela algumas vezes enquanto a analisava. Ela foi chamada por ser a sacerdotisa mais dotada de Luríon.

— Como resolver isso? Deve haver uma forma? — A dor na voz de Lohan era perceptível.

— Nem a sacerdotisa real tem a força espiritual para reparar um dano desses. — Respondeu a anciã com certo pesar. — Receio não poder ajudá-lo. Sinto muito, Majestade!

— SAIA! — Rugiu Lohan furioso. Ele bateu a porta com força assim que ficamos a sós e voltou-se para o meu corpo. Descendo os dentes sobre meu pescoço, parecia estar tentando me marcar de novo. Após várias tentativas inúteis, lágrimas começaram a transbordar de seus olhos. É a primeira vez que o vi chorando tão aflito.

— Volta para mim! — Implorou enquanto descia os lábios desesperadamente sobre os meus. — Eliza, me perdoa!

— Parece que esse negócio de beijo de amor só funciona em filmes. — Comentei enquanto ficava frente a frente com ele.

Perdendo o controle, lançou-se no chão enquanto a energia do seu lobo transbordava. Após a transformação, uivou de dor por um longo tempo. As lentes que lhe dei saltaram de seus olhos e se estraçalharam no chão após a transformação.

— O que você fez, companheiro? Como vai olhar nos olhos das outras pessoas de novo sem isso? — Ele havia cuidado das lentes com muito zelo até agora. Era perceptível que ele não estava pensando direito. Eu queria sentir pena, mas não conseguia sentir nada. Me sentia vazia como se meu coração tivesse ficado para trás no meu corpo.

O lobo caminhou inquieto ao redor da cama antes de subir nela e se deitar ao lado do meu corpo. Ele colocou a cabeça sobre o meu peito e continuou choramingando incapaz de me deixar.

— Já vai amanhecer companheiro! Por quanto tempo vai continuar assim? — Agora nossa situação era completamente oposta em relação a como foi no começo. Desta vez era eu que o via e ouvia e ele não. Que ironia do destino!

Eu não me sentia cansada por ficar tanto tempo de pé e também não sentia sono. Poderia ficar indefinidamente olhando o desenrolar de tudo isso, mas isso não me levaria a lugar algum.

Destino: O herdeiro AlfaWhere stories live. Discover now