P2 - Capítulo 49

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Visão de Lohan. Aproximadamente dois anos antes...

— Majestade! O seu jantar está servido! — Avisou-me Vera, uma das poucas servas que eu permitia entrar em minha presença sem ser convidada. Ela esteve comigo desde que eu era criança e a forma como zelava pelo meu bem estar não mudara em nenhum momento. Ao longo dos últimos séculos ela sempre aparecia nos mesmos horários, me lembrando de seguir uma rotina chata e programada.

Olhei para ela, um sentimento de vazio e indiferença dentro de mim. Vera não era diferente dos outros na forma de se relacionar comigo. Ela evitava fazer perguntas e estava sempre olhando para baixo com o rosto tenso.

— Entendido. Pode se retirar!

Levantei-me e caminhei até a mesa de jantar. Olhei as opções sobre a mesa. Um dia já gostei de cada um dos pratos, mas depois de comê-los tantas vezes eu já não sentia mais prazer em fazer isso. Comer, era como continuar vivendo. Para mim não era mais do que uma obrigação, só mais uma maldição em minha vida monótona.

"Pelo menos não temos reunião hoje. Podemos caçar!" — Falou meu lobo, Ray, dentro de mim.

Caçar geralmente acabava me deixando mais tediado. Os animais são lentos e fracos demais. Por um tempo eu gostava de acompanhar os guardas para procurar fugitivos, mas a criminalidade caiu drasticamente depois disso. Para o resto, meus homens eram eficientes até demais e dificilmente me traziam problemas.

"Vamos observar! Quem sabe algo novo acontece!" — Respondi para o meu lobo enquanto caminhava até o centro de observação e invocação. Não é como se gostasse de fazer isso, mas passar as noites acordado fazendo monitoramento era a desculpa perfeita para evitar as reuniões matinais chatas e repetitivas do conselho.

Ampliando meus sentidos, projetei minha consciência na zona de reflexão mágica interdimensional e me deitei comodamente sobre a cama. Assim como tudo em minha vida, o som que preencheu o ambiente era extremamente repetitivo e tedioso. Eu já estava tão acostumado com o som e com as paisagens que nem me incomodava mais em ficar olhando.

Antes quando eu vinha, pegava um livro na biblioteca para ler enquanto esperava o horário da vigília encerrar. Depois de ler praticamente todos eles uma dezena de vezes, eu já não tinha mais vontade de fazê-lo mais. Na verdade, não sentia vontade de fazer nada. Odiava não ter mais nada para fazer sozinho, odiava não ter uma companhia para passar o tempo e odiava ter que continuar vivendo, ou por assim dizer, sobrevivendo!

"Ouça isso!" — Alertou meu lobo. Coloquei-me de pé e, amplificando os meus sentidos, encontrei uma voz doce e melodiosa. Parecia que alguém estava cantando. Meu lobo estava inquieto, tomado pelo desejo de encontrar a dona dessa voz. Era difícil lutar com ele quando ele se propunha a algo. Ray sempre foi extremamente forte e dominador.

Concentrei-me em remover todas as imagens em que eu não encontrava nada. Reduzindo as opções, rapidamente localizei de onde vinha o som.

"Algo novo!" — Exclamou meu lobo, Ray, empolgado com a visão à nossa frente. Uma jovem mulher estava sentada sobre uma rocha no meio do fluxo de água que descia perto de uma cachoeira. Estava olhando para lua enquanto cantava uma canção bela e estimulante.

— Maravilhosa! — Sussurrei admirando cada um de seus traços belos e delicados. Seu corpo nu estava banhado sobre a luz do luar, seus cabelos negros e úmidos desciam ondulando por sua pele clara.

"Quero ela!" — Grunhiu meu lobo dentro de mim. Ele nunca tinha me dito algo assim antes sobre nenhuma mulher. Por algum tempo no passado, procurei alguém que pudesse agradá-lo, mas era uma missão quase impossível.

Destino: O herdeiro AlfaWhere stories live. Discover now