Capítulo 31

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O cheiro de terra molhada preenchia completamente o ambiente à medida que a chuva se intensificava. Não havia onde me esconder. Tomei forma humana e permiti que a chuva molhasse completamente meu corpo nu enquanto observava a cachoeira aumentando o seu volume, cujas águas agitadas vinham cada vez mais furiosas.

"Acha que a chuva vai estragar a noite da Annie?" — Perguntou-me Lisa preocupada.

Eram cerca de duas horas da madrugada quando sai sorrateiramente pela janela do meu quarto. Meu objetivo era voltar até a cachoeira para gravar com mais precisão o trajeto e as melhores rotas. Embora parecesse uma noite mais escura e nublada, não havia sinais de que choveria até que cheguei perto daqui e fui recebida por esse torrencial. Caminhei lentamente pelo terreno sondando as possibilidades.

— É melhor que os céus esvaziem agora do que no dia. — Comentei esperançosa. Não seria tão legal se não pudéssemos nos banhar na cachoeira ou mesmo uivar para a lua na nossa noite de meninas que aconteceria daqui a duas noites, num dia de quinta-feira.

Por precaução, decidi que deveria adquirir mais suprimentos essenciais tal como uma boa barraca para dormirmos.

"Acho que não vai precisar da barraca." — Comentou quando nossos olhares se fixaram na cachoeira. O aumento foi tão grande que parte da água ondulava em um ponto no final da queda, como se houvesse uma espécie de buraco. Eu não teria percebido isso se não tivesse me atentado ao caimento da água anteriormente.

— Vamos averiguar agora? — Perguntei provocativamente.

"Não, isso é perigoso! Loucura!"

Lisa tinha razão. O volume de água caia torrencialmente, então se fosse apenas uma variação rochosa qualquer, eu colocaria nossas vidas em risco desnecessariamente.

— Não precisa ser agora. Trarei os suprimentos amanhã e aproveito para averiguar. De qualquer forma vamos precisar da barraca. — Mesmo supondo que houvesse uma caverna ali, a vista não seria tão maravilhosa e iluminada como a noite de luar ao ar livre.

Encarei admirada a queda da cachoeira por mais alguns minutos. Parecia viva e majestosa e senti meu coração disparar. Um arrepio percorria todo o meu corpo, deixando-me inquieta. Rapidamente me transformei e virei de costas, com uma sensação forte de que eu não estava sozinha.

"Eliza, você já não averiguou a região? Não há rastros recentes. Acho que você pegou chuva demais!"

"Silêncio!" — Pedi a ela enquanto percorria cautelosamente a área pela terceira vez, atenta a todos os cheiros, sons e movimentos. Eu precisava ter certeza de que é seguro ou teria que encontrar outro lugar para ir com a Annie. Após uma volta completa, voltei margeando as águas e olhei cuidadosamente para a queda.

"Viu, não tem nada." — Tentou me confortar Lisa.

"Talvez na caverna..." — Insisti. Por algum motivo que eu não entendia, meu coração continuava batendo forte no meu peito e encarei aquelas águas por um instante como se fosse minha maior inimiga. Me sentia muito desconfortável. Mesmo sem rastros, mesmo sem cheiros, era como se as águas estivessem me observado.

"Acha que pode ser a deusa?" — Perguntou minha loba cedendo às minhas desconfianças.

"Como a deusa da lua apareceria em um dia nublado e escuro, cujo céu, estrelas e a própria lua estão escondidos?" — Retruquei. Vendo-a se calar, resolvi que já era hora de voltar.

Cheguei em casa a tempo de tirar um cochilo rápido. Assim que o alarme disparou, levantei-me apressadamente da cama. Mesmo a madrugada sendo chuvosa, o sol despontou alegremente perto do horário do almoço.

Destino: O herdeiro AlfaWhere stories live. Discover now