Capítulo 51

1.6K 151 0
                                    


Não estava fácil me focar nos estudos, tampouco conseguia me concentrar nas aulas que eu tinha que dar nessa última semana. Fui conversar com o fantasma misterioso por três dias seguidos, mas já sentia falta de estar lá. Era loucamente incompreensível que estar na cachoeira viesse a ser minha parte favorita de cada dia, se tornando o momento pelo qual eu mais ansiava.

— Tia Lisa, é assim mesmo? — Era aula de terça. Caroline agarrara a bainha da minha camisa e a puxava de leve para tentar chamar minha atenção.

— Você está errando o tempo, querida. — Respondi pacientemente.

— Você parece diferente. Na última aula você também estava assim.

— Assim como? — Perguntei confusa.

— Sorridente! Você está sorrindo muito. — Tirei alguns segundos para prestar atenção e realmente senti que estava sorrindo. Eu não teria percebido isso se ela não o tivesse mencionado.

— É que as músicas estão fluindo na minha cabeça, como a queda de uma cachoeira. — Respondi. Desde a primeira vez que interagi com o senhor fantasma, eu já tinha escrito duas composições do zero e finalizado outras quatro que eu deixara inacabadas. Eu nunca tinha tido tanta inspiração assim antes.

— Tia, me mostra! — Pediu ela com os olhinhos brilhando. Comecei a tocar uma das melodias. Conforme a música desenvolvia, ela começou a bater palmas no ritmo.

— Viu, você consegue manter o ritmo. — Se não puder usar as mãos, faça com os pés. Agora tente de novo.

— Tia, sua nova música será um sucesso! — Ela me disse antes de voltar a pressionar as teclas do piano. Sai da casa do alfa com as palavras dela na minha cabeça.

Geralmente quando eu voltava caminhando, acabava passando de frente da casa de Nicolas. Dessa vez, acabei parando e fiquei olhando para a porta de entrada. Eu havia prometido a ele que ele seria o primeiro a ouvir minhas músicas novas, mas acabei cantando algumas delas para o senhor fantasma e tocando uma das melodias novas para Caroline.

Me perguntei se o senhor fantasma era realmente alguém. Se o fosse, eu havia quebrado o acordo. Movida pelo remorso, acabei me aproximando da porta da casa e tocando a campainha. Por vezes, eu tinha vindo aqui quando a banda estava ensaiando, mas era a primeira vez que tomei a atitude de aparecer sozinha.

— Boa noite, senhora Kate. O Nicolas está? — Uma mulher bonita, alta, de pele escura e cabelos pretos cacheados atendeu a porta. Era a mãe de Nicolas. Por vezes ela aparecera para cumprimentar os amigos do filho, ou simplesmente para trazer lanches no meio de um ensaio demorado.

— Eliza, que surpresa! Nicolas não está, ele saiu com o irmão para correr. É algo importante?

— Não, não se preocupe. Só estava de passagem e quis dar um oi.

— Querida, quem está aí? — Uma voz masculina grave pode ser ouvida. Seus passos eram firmes enquanto ele se aproximava da porta.

— É uma amiga do nosso filho. — Respondeu Kate, enquanto o beta se posicionava ao lado dela.

— Entendo. Boa noite, sou John! — Disse-me o beta, esticando a mão e estudando-me. Sendo da elite, era natural ele desenvolver sentidos mais aguçados e sempre desconfiar, então achei que era hora de me retirar.

— Sou Eliza, prazer! — Disse retribuindo o aperto de mãos. — Como o seu filho não está, passo aqui em outro momento. Obrigada pela atenção e tenham uma boa noite!

— Espere! — Disse ele sem soltar a minha mão. O aperto prolongado estava me deixando desconfortável. — Acho que já te vi antes.

— Provavelmente. Venho aqui de vez em quando nos ensaios da banda e também frequento a casa do alfa para dar aulas de piano para Caroline. Acabo sempre passando aqui de frente. — Tentei desconversar, arranjar desculpas para desviá-lo da situação do real encontro que tivemos, mas ele não parece ter engolido a minha história. Em vez disso, apertou minha mão com mais força.

Destino: O herdeiro AlfaWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu