Capítulo 24

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Acordei cedo no dia seguinte. Era a primeira vez que eu voltara à floresta desde que o incidente aconteceu. Corri com minha loba até cansar e depois voltei-me para meu arco que permanecia pendurado sobre a árvore. Após recuperá-lo com sucesso, voltei para casa para uma refeição matinal no capricho antes de sair para o terceiro dia de torneio.

Diferente das outras adversárias que eu enfrentara ao longo da semana, a jovem que se equipava ao meu lado parecia saber o que estava fazendo. Pertencia ao colégio alvorada, e seus longos cabelos castanho lisos estavam presos em coque. Cada sutil movimento que fazia me dizia que praticara arco e flecha desde pequena. Eu não estava errada!

Os alvos estavam posicionados ao ar livre. Assim que ela iniciou o aquecimento, notei sua posição impecável. Após mirar com atenção, o primeiro disparo foi perfeito.

"Uma aversária a altura" — Disse minha loba dentro de mim. Atentei-me ao seu perfil, tinha o rosto oval, lábios finos e olhos castanho escuros. Sua altura se assimilava a minha, por volta de 168 cm.

Sem me preocupar com postura e outros detalhes, atirei rapidamente duas flechas em aquecimento apenas para verificar todas as condições. Uma delas escapou por pouco do centro fazendo minha adversária soltar um riso convencido.

"Conseguiu sentir?" — Sim! Confirmei com a minha loba. Chequei meus equipamentos uma última vez antes de me posicionar para o meu primeiro disparo oficial. Um tiro perfeito! Eu tinha pra mim que para vencer aquela garota eu não podia errar uma vez sequer. O alvo cada vez se distanciava mais o que não foi um problema para mim. Sorri quando a minha última flecha alcançou o centro, deixando minha adversária visivelmente nervosa. Com sua autoconfiança abalada, bastou um pequeno deslize dela para eu sorrir satisfeita. Minha única adversária havia perdido um ponto, e esse único ponto me levou à vitória.

A grande torcida que se reunira para torcer por ela havia se calado. Olhei em volta procurando minha própria torcida e percebi que estava sozinha. Do que adiantava vitórias se eu não podia compartilhá-las? Meus amigos estavam em competições simultâneas ou apoiando uns aos outros. Annie desta vez estava apoiando Liam no campeonato de futebol.

Guardei minhas coisas e resolvi ir para casa mais cedo. A sensação de me sentir sozinha no meio de tanta gente podia ser opressora. Amanhã seria o último dia de competições, abrangendo várias modalidades de luta e sexta feira a cerimônia de encerramento e entrega das premiações.

— Chegou cedo! — Entoou minha tia surpresa ao me ver entrando.

— Aconteceu algo? — Minha avó parou o que estava fazendo e veio ao meu encontro. — Coloquei meu arco sobre a mesa da sala e me sentei calmamente. — Por que está com essa cara tristinha? Você perdeu?

— Não, vó. Ganhei de novo.

— Ela só deve estar cansada. — Interviu minha tia tentando abafar as preocupações de minha avó.

— Sim, estou. — Menti. — Passei mal semana passada, então me esforcei muito esses dias e isso me drenou muita energia.

O que me drenou de verdade foi todos os sentimentos negativos que emergiram da minha mente. Tudo o que eu queria agora era fechar meus olhos e tocar o meu violão colocando para fora toda essa angustia inútil até não sentir mais nada além da música. Acontece que meu violão não estava comigo.

— O almoço está quase pronto. Coma primeiro e depois durma um pouco e descanse. — Sugeriu minha avó voltando ao que estava fazendo.

Fui ao meu quarto tomar um banho quentinho para relaxar e depois sentei-me a mesa para almoçar. Foi quando o meu celular tocou. Atendi de imediato:

— Oi, Eliza! Soube que ganhou. Parabéns! — O tom de Nicolas era espontâneo e alegre. —Estamos te procurando para um almoço de comemoração. Fiquei em segundo em arco e flecha masculino e o time de futebol masculino que o Liam jogou ganhou a de hoje também. Com as vitórias de hoje nosso colégio já está como primeiro colocado independentemente dos resultados de amanhã.

— Sinto muito! Estou em casa e já estou almoçando. Quero tirar o restante do dia para descansar um pouco.

— Entendo... — Disse desanimadamente. Após um minuto de silêncio sua voz soou com a mesma empolgação de antes. — Aqui não aceitamos um não. Sexta feira depois da premiação vamos sair para comemorar entre nós.

— Fechado então!

— Amanhã estaremos lá para torcer por você, está bem? Além disso, não esqueci o que te prometi caso ganhasse. Apenas aguarde.

— Obrigada! — Disse de volta, desligando o telefone.

Lembro de ter deitado depois do almoço e ouvido música até dormir. Dormi tão pesado que quando acordei de novo já era por volta das três da manhã. Abri silenciosamente a janela do meu quarto e observei a escuridão do lado de fora com um novo ânimo.

"Vamos correr!" — Entoou minha loba. Deixei a sensação de liberdade me invadir enquanto Lisa corria através da floresta noturna. Corri por tanto tempo que, sem perceber, ultrapassei a zona que demarquei no meu próprio mapa pessoal. Havia diferentes cheiros de lobos na área, mas nenhum era recente o suficiente para eu me preocupar. Essa parecia ser uma região bem pouco frequentada.

Caminhei a passos lentos enquanto ouvia o som da água correndo e encontrei uma cachoeira linda no meio da floresta. Aproximei-me da correnteza para beber um pouco de água e, tomando forma humana, mergulhei na água gelada por um tempo. Depois sentei-me em uma pedra no meio do fluxo de água e observei o céu noturno pela abertura na copa das árvores. Estava lindo, bem como a composição que começava a se formar na minha cabeça.

Aqui eu me sentia completamente livre e, sem medo de ser ouvida e revelada, cantei com todo meu coração a canção que se formava, sentindo o peso que me angustiava se esvaindo de mim a cada nota entoada.

Assim que terminei a canção, senti uma estranha sensação como se eu estivesse sendo observada. Olhei em volta procurando por sinais de presença, mas não detectei nada. Os pelos em meus braços estavam muito arrepiados, com uma leve sensação de eletricidade e minhas mãos começaram a tremer de leve.

"Você só está com frio." — Minha loba tentou me tranquilizar. Possivelmente era só isso, eu estava em minha forma humana, completamente despida após um mergulho em águas geladas, cujo a brisa exterior parecia ainda mais fria do que a própria água. Decidi que já era hora de ir.

"Vamos caçar!" — Pediu-me Lisa assim que alcancei novamente a margem e tomei forma de lobo.

"Não dá tempo! Temos que voltar! — Respondi a ela apressando meus passos enquanto eu seguia meu próprio rastro para achar o caminho de volta.


Destino: O herdeiro AlfaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ