Capítulo 68

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Depois de mais algumas semanas, eu já conseguia chamar minha nova casa de lar. Eu me acostumara bem com a nova rotina que definira para mim. Era madrugada do dia vinte e nove de janeiro, um dia que deveria representar uma ocasião especial, mas que para mim só me fazia ficar mais triste. A primeira coisa que fiz quando acordei foi ir conversar com o senhor misterioso.

— Faço aniversário hoje. Mereço um presente, não? — Eu não faria festa, até porque não teria quase ninguém para chamar. Os únicos parabéns que recebi até o momento foram de Marcos e sua família, que mandaram felicitações por mensagem assim que o dia virou. Provavelmente minha mãe só me mandaria mensagem tarde da noite, isso se ela se lembrasse. Quanto aos meus amigos, eu não contei sobre esse dia para nenhum deles de qualquer forma. Tinha um pouco de receio que soubessem e, mesmo assim, não me mandassem felicitações assim como os colegas da minha antiga escola faziam comigo. Ser ignorada era muito doloroso. Assim, se eles não soubessem e não mandassem nada, não havia problemas e eu não sofreria com isso.

— Adivinha! Consegui terminar as composições que faltavam para o meu novo álbum. Eu mandei todas as músicas para o meu empresário. Ele adorou e disse que as minhas músicas estão mais maduras. Você também acha isso?

Não havia resposta, mas ainda assim eu gostava de perguntar as coisas para ele. As águas desciam calmamente, em menor volume devido à ausência de chuvas que vinha tendo. Aos poucos, a noite começava a dar lugar a mais uma manhã ensolarada. Eu estava vindo aqui todas as madrugadas, e ele sempre estava aqui para mim... por mim. Como não me comover? Quem mais perderia horas de sono todos os dias para se encontrar uma garota doida que conversa sozinha?

— Eu sempre fico muito feliz quando venho aqui conversar com você. Andei pensando muito em uma coisa, sabe? — Aproximei mais o meu rosto da água e sussurrei para ele. — Fico muito curiosa para saber como é o seu mundo. Sempre vem criaturas assustadoras de lá pelas fronteiras sombrias e fico pensando se o motivo de você não ter me deixado vê-lo é que talvez você pense que também é assustador. Nesse caso, você só não queria me assustar, estou errada? Se for isso você foi um bobo! Não importa como seja a sua aparência, eu nunca vou me assustar com você e sabe por quê? Porque eu gosto de você!

Meus estranhos sentimentos se tornaram claros como a água com o passar das últimas semanas. Eu não me importava com a aparência que ele tivesse ou o quão assustador ele pudesse ser. Todo dia eu dormia sorrindo abraçada com a manta que ganhei dele, sempre imaginando que era ele mesmo que estava ali comigo. Se isso não é estar apaixonado, então o que seria?

A cada dia que passa eu ansiava por voltar vê-lo, e alimentei esse sentimento dentro de mim como se tivesse alimentado uma pequena chama com combustível, até que ela se tornou uma fogueira. Eu sabia que isso era uma fantasia sem sentido, uma loucura sem tamanho, mas é algo que se tornou real para mim, não só na minha mente como também no meu coração.

— Então depois que eu terminar de gravar o meu novo álbum, quero ir com você para o outro mundo. Dessa vez quando nos encontrarmos, você pode me levar com você? — Toquei de leve na água, imaginando que eu estava tocando na mão dele.

"Pare de falar bobagens! Precisamos voltar!" — Disse Lisa. Eu ainda tinha que passar em casa para tomar café e me trocar. Pretendia passar na escola ainda cedo para ver se tinha conseguido a dispensa que solicitei da disciplina de combate.

— O meu dia hoje está cheio então me despeço aqui. Amanhã eu volto no mesmo horário. Em breve recomeçam as aulas então não sei se poderei continuar vindo todos os dias. Mas eu te informo, tudo bem?

Na minha cabeça, ele sempre concordava com tudo que eu dizia. Não é como se ele tivesse como debater comigo sobre o que ele queria de qualquer forma...

Destino: O herdeiro AlfaWhere stories live. Discover now