P2 - Capítulo 04

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Acho que se não fosse por Lohan, eu teria demorado um pouco mais a conseguir sair da água. A inclinação fazia com que toda a faixa próxima ao mar se tornasse um escorredor mais liso do que piso ensaboado. O segredo para caminhar pela areia molhada é afundar a ponta dos dedos nela. Eu não tinha ideia do que essa estranha areia é composta, mas foi só depois disso que descobri o quanto era pesada. Eu provavelmente não teria forças para carregar um balde cheio dessa areia, mesmo com a força da minha loba. Fazer castelo de areia nessa praia é algo completamente fora de cogitação.

— Por que não me leva para conhecer a cidade? Adoraria ver como é a alcateia! — Pedi a ele depois que retornamos ao pátio do palácio.

— Inviável no momento. — Respondeu-me com a voz suave.

— Quando então? — Insisti. Quase não havia guardas no caminho por onde passamos, e quase não conheci ninguém desde que vim a este mundo. Eu podia jurar que Lohan ordenou que os guardas se afastassem dos lugares onde ele me levaria. Em um contexto normal, eu acharia romântico que pudéssemos fazer um passeio a dois sem sermos incomodados, mas eu sabia que nenhum de nós dois éramos normais. Por algum motivo, ele estava tentando me afastar das pessoas, e isso ficou claro por conta de proibições como essa. — Quando vou poder conhecer outras pessoas?

— Não está satisfeita comigo? — Perguntou-me com a voz um pouco mais séria.

— Lohan, não é isso! Eu só quero conhecer mais sobre as pessoas com quem convive. Você está com vergonha de me apresentar a eles? — Minha respiração ficou pesada e baixei o olhar. Lembranças de como William me rejeitara por conta da opinião das pessoas me vieram a mente. Será que as pessoas aqui teriam uma opinião ruim de mim, a meio humana do outro mundo?

— Não é isso! — Disse ele tocando minha face e elevando-a para que eu pudesse olhar em seus olhos. — Você é o meu maior tesouro e não me importo que todos saibam disso. Como meu tesouro, devo protegê-la e, até que eu tenha certeza de que será seguro para você, peço que continue sob minha guarda e acate os meus conselhos.

Ele realmente sabia como convencer uma garota. Seu maior tesouro, é? É por causa de cantadas como essa que eu ficava sorrindo de amores o tempo inteiro. Como se quisesse me dar um mimo por conta de não poder realizar o meu último pedido, ele me mostrou uma escada no pátio que levava ao segundo andar. Entramos num corredor com vários acessos e paramos de frente a uma grande porta dupla de madeira.

— É o que estou pensando? — Perguntei ansiosa. Ele sorriu para mim como se dissesse que sim e convidou-me a abrir a porta. — A sala mágica!

Ali no centro estava a cama, as paredes todas como espelhos que não refletem nada e o teto brilhante como se ele inteiro fosse uma lâmpada.

— Chamamos de centro de observação e invocação. — Explicou-me. Dito isso fechou a porta e caminhou até a cama se sentando em cima dela com as pernas cruzadas.

— Minha caixa do tesouro! — Estive tão distraída no último mês que sequer tinha parado para perguntar a ele o que fizera com ela. Estava por cima da mesma prateleira perto da porta, no mesmo lugar que ele o havia colocado quando vim aqui pela primeira vez.

— Deixei aí como um lembrete. — Disse-me suavemente esticando a mão em minha direção. Aproximei-me dele atendendo o seu chamado.

— Lembrete de quê? — Perguntei curiosa enquanto me sentava ao lado dele.

— De nunca desistir. — Assim que ele disse isso, toda a parede da sala começou a brilhar, revelando imagens de incontáveis paisagens. Era como uma sala de vigilância e monitoramento, mas haviam milhares de telas espalhadas pelas paredes. Os mais diversos sons se sincronizam pelo que tinham em comum entre si. O barulho de águas correndo era tudo o que se podia ouvir.

Destino: O herdeiro AlfaWhere stories live. Discover now