Para Maria Vitória, o dia era apenas mais um. Não era algo espetacular, afinal, parecia que todas as suas vontades, seus sonhos e desejos teriam sido apagados pela dor da escravidão. Ela abriu os olhos, de um lado viu Bento, e Rosário, que acabaram adormecendo ali, e no outro lado apenas a janela, virada para a rua, mostrando a ela a cidade parada de manhã cedo, e a entrada da casa do falecido Coronel, onde a esperança de sua mãe e avó chegarem dali era a maior coisa do momento.
Sentou-se ali, olhando a rua pela janela, e sentiu um aperto no peito. Estava triste, e desanimada... Pensava na situação que a mãe se encontrava, e a avó, uma idosa, tão frágil apesar da força que demonstrava. O Barão por sua vez, deveria estar satisfeito, pelo menos era o que ela pensava.
Eugênia acordou e sentou-se na cama, enquanto Leôncio se vestia. Ele não parava de falar na Maria Vitória, e em sua vontade de ver a filha, enquanto sua esposa ouvia calada.
- Eugênia, não me ouviu?
- Hã?
- Eu vou ver a Maria Vitória, e claro você vem comigo, certo?
- Vou... Vou sim.
- O que você tem?
- Nada.
- Tem certeza? Voltaste ontem da cidade, pouco falou, me pareceu desconfortável.
- É... Eu tenho algo para contar.
- O que foi?
- Ontem... Perto do anoitecer, A Dandára foi embora da casa do falecido Coronel.
- Foi embora?
- Sim... Ela voltou para a fazenda do seu pai.
- O que disse?
- Você já ouviu...
- Como não me contaste uma coisa dessa, Eugênia?
- Estive ciente de tudo, eu já sabia que ela iria embora. Mas nem com isso consegui trazer Maria Vitória de volta para nós.
- Simplesmente não estou acreditando. Dandára voltou para a fazenda... Meu Deus, com certeza por causa da mãe.
- Sim, foi isso.
- E você já sabia... Mas como?
- Ela conversou comigo, disse que a mãe precisaria dela, e ela me deixaria cuidando da Maria.
- Ah, Dandára... Sempre com o coração enorme! Mas você, Eugênia, deveria ter me falo... Pensando bem, por isso você não quis que eu fosse ontem visitar minha filha.
- O que teria mudado, me diz?! Estou tentando me reaproximar da Maria Vitória, e a partida de Dandára seria o ocorrido perfeito para que isso acontecesse, mas nem assim!
- Pensa somente em você, Eugênia!
- E como não pensar em mim mesma se ninguém mais pensa? Estou cheia, Leôncio, novamente! Tá tudo errado, tudo... Eu sou assim, o que posso fazer? Estou dando o meu melhor, mas ninguém percebe isso.Leôncio respirou fundo.
- Parece até que a culpa é minha se ela voltou para a fazenda.
- Não, a culpa não é sua.
- Então não brigue comigo. Meu silêncio foi um desejo da própria Dandára, e fiz isso para evitar uma dor maior na Maria Vitória. Visto que sofreu muito vendo a avó partir.
- Agora te entendo melhor, Eugênia.
- Atira pedras em mim antes mesmo de me ouvir. Você é sempre assim, durante todos esses anos!
- Não seja uma mulher cheia de dramas, Eugênia, por favor! Peço desculpas, mas fiquei nervoso nessa situação... Minha filha está envolvida de qualquer forma.
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Escrava Sinhá [Concluída]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, uma das mais belas moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o me...