Capítulo 78 - Parte 1

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          Dona Cila passou a noite em claro, pois não conseguiu dormir. Ela recebeu o recado do Barão, e suas mãos tremiam de angústia, por não saber onde estaria Edmundo, e nem o que o Barão poderia ter feito com ele.




      - Estás com medo, não é?
      - Estou, Tião... Estou arrependida de ter falo... E triste com até onde tudo isso chegou.
      - A senhora fez o certo, a verdade veio. E o Edmundo a dias que andava teimoso e com raiva. Fique triste não.
      - Agora o menino que eu ajudei a cuidar... Simplesmente está nas mãos daquele homem... Sabe-se lá o que vai fazer com ele.
      - Devemos pensar positivo... estivemos tantas vezes nas mãos daquele homem, e cá ainda estamos.
      - É diferente... O Barão odiava o Edmundo antes de saber a verdade, agora esse ódio cresceu... E ele não terá piedade na hora de demonstrá-lo.



          Dandára se aproximou, e Tião se retirou.


      - A senhora fez o que fez, para ninguém nunca nos separar, não foi?
      - Foi. E mesmo assim, mesmo tentando fazer o bem... Para outros isso trouxe apenas infelicidades.
      - Mas o Edmundo entendeu, viu? Ele conhece esse teu coração, um coração que acolheu todo mundo aqui dessa senzala. Criou, foi mãe e avó de cada um. Que mulher forte! A sinhá Ana Vitória teve muita confiança na senhora, e tenha certeza, de onde estiver, ela tá cuidando também do filhinho dela.
      - Ô minha filha... Eu bem queria me acalmar...
      - O Edmundo vai escapar, minha mãe. Eu tenho certeza! Homem como ele sempre passará pelas provas que a vida coloca pelo caminho. Eu não tenho dúvidas, e nem medo. Eu sei que o Edmundo vai ficar bem, ele sempre fica! Agora aquiete esse coração, fique positiva... A liberdade vai chegar, uma hora tem que chegar.












...









          O corpo de Leôncio estava na igreja, na missa de despedida. No primeiro banco, Maria Vitória e Eugênia faziam companhia uma para a outra, enquanto ouviam as consolações do padre. Logo atrás, Lázaro, Maristela, Branca e Peixoto ouviam cada palavra em um perfeito silêncio, em seguida, vieram os condes, as meninas, Fausto, Celso, e conhecidos.



      - Jesus disse, meu filhos, que não devemos chorar... Aquele que nele crê, ainda que morra viverá. Isso não é bonito? Esse homem, Leôncio Álvares Real, está se despedindo dessa terra para nos esperar no outro lado. E juntos estaremos com ele, no Reino dos céus...  - Pregava o padre. Palavras que para muitos serviria de conforto, e para outros seriam apenas palavras comuns de todo velório. Maria Vitória estava de cabeça baixa, e assim permaneceu.



      - Como ele tem tanta certeza que iremos para o céu? Segundo o cristianismo existem dois caminhos... Será que não vamos para o segundo?  - Cochichou Virgínia.
      - Você não cansa de falar besteiras?
      - Quem diz besteira é esse padre. Para mim deveria ter levado o corpo direto para o cemitério, ficar falando essas coisas é praticamente tortura... trás mais dor.
      - Nem todos pensam assim.
      - Nem todos pensam direito, querida prima. Ai! Como está calor aqui... Espero que isso acabe logo.

Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now