Capítulo 115

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                     Maria Vitória terminou de tomar o seu café na companhia de Eugênia. Estava calada, séria, até a mulher presente quebrar o silêncio na intenção de saber o que se passava na cabeça da garota.



         - O café estava bom? A sua avó insiste em querer uma empregada o quanto antes, mas até que venho me saindo bem sozinha. Pensei que em meio as escravas libertadas eu poderia encontrar uma mulher de confiança para os serviços aqui. O que me diz?



                 Maria Vitória estava distraída olhando "para nada", e assim não respondeu.



         - Maria Vitória... Ei, Maria Vitória?!   - Gritou.
         - Sim? O que foi?
         - Estou falando com você, e nada! Não me responde, está distraída, o que tens?
         - Só estava pensando em algumas coisas, desculpe-me.
         - Passou o dia inteiro naquela fazenda ontem. Custa ouvir um pouco essa mulher que está na sua frente?
         - Desculpe, minha mãe. É que são tantos problemas.
         - Mais ainda? Impossível! O que houve agora?
         - Os cativos que foram libertados, eles precisaram voltar para a fazenda.
         - Como assim?
         - Voltaram para ter um lugar para viver. Como estou tomando conta, eles pensaram se eu não poderia lhes oferecer algo.
         - E o que você decidiu?
         - Tenho idéias para eles, lhes contei, a aceitaram. Não são grandes coisas, mas tudo que posso fazer.
         - Eu pensei que fossem continuar nas comemorações. Sabe, toda essa festa já está me incomodando.
         - Foram séculos de escravidão, estão comemorando a liberdade. Infelizmente foram jogados das senzalas para as ruas, nem sabem como será depois.
         - Eu não quis dizer que não devem comemorar, claro que sim, mas é que... Ah, esqueça! Me conta, e a Dandára? Imagino que deva estar feliz.
         - Muito! De alguma forma todos estamos.
         - Você não me parece muito feliz, minha filha. Tem algo a mais que não me contou?
         - Não é nada. De repente vem memórias na minha cabeça. Me lembro do meu pai, de tudo que vivemos até aqui... E também... Fausto está indo embora hoje.
         - Hoje? É por isso que está tão chateada?
         - Não vou esconder que estou muito triste. Eu sempre disse que nos casaríamos quando a minha mãe Dandára estivesse livre, mas não vamos mais.
         - Eu sinto muito, filha. E sinto mais ainda se de alguma forma eu colaborei para isso.
         - A escolha foi dele, não se preocupe. Bom, eu vou para a fazenda.
         - Mas já?
         - Sim, vou limpar o escritório. Vou ver os papéis, documentos, e tudo que estiver lá.
         - O que pensa em fazer?
         - Eu vou guardar tudo. Poderia queimar, mas sei que algum dia tudo aquilo será algo histórico para uma geração. Igual os pertences da minha avó, a baronesa.
         - Está certa! É uma boa escolha. Não se esqueça de benzer tudo aquilo.
         - Já falei em celebrar uma missa na fazenda, sim?   - Sorriu.
         - Ótimo! Aquele lugar precisa tirar toda energia carregada deixada por aquele homem.
         - Por falar nele... Como será que está no sanatório?
         - Sofrendo, eu espero.
         - Mãe...
         - Sinto muito, Maria Vitória, eu não consigo esconder isso. Você vai para a fazenda, e eu vou fazer uma visita ao orfanato   - Ela se levantou.   - Não pense em coisas ruins, sim?   - Eugênia disse segurando e beijando-lhe o rosto. Saiu em seguida, deixando Maria Vitória pensativa.
                 











Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now