Capítulo 114

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                 Ainda haviam comemorações em arredores, nas ruas, e outros. Maria Vitória finalmente retornava para a fazenda, dessa vez oficialmente sendo a dona. Ela estava acompanhada por Cila, Dandára, Edmundo, Lázaro, e Maristela.




                  Ao chegar, próximo a entrada do casarão, os capatazes estavam reunidos de um lado, e os antigos cativos de outro, aguardando sua chegada.



         - Bom dia a todos! Está tudo bem aqui?   - Ela perguntou abrindo sua sombrinha para se proteger do sol.
         - Dona Maria Vitória, estávamos aguardando vossa chegada.   - Disse um capataz.
         - Sim, cá estou. Sei que prometi estar aqui para resolvermos a situação de cada um. Quem vai começar a falar?



                  Um homem que estava entres os antigos cativos ergueu o braço pedindo permissão para falar.



         - O senhor pode falar aqui mesmo? Desculpe, mas o escritório do casarão ainda precisa de muitos reparos.
         - Eu entendo, senhorita. É que... Todos nós voltamos para cá.
         - Sim, estou vendo. Inclusive, deveriam estar em festa pela cidade!   - Sorriu.
         - A festa foi só ontem, senhorita. Hoje é o dia seguinte, e a pergunta que não quer se calar é: O que faremos agora?


                  Maria Vitória o olhou bem, respirou fundo, e continuou a ouvir.


         - A gente não tem trabalho, senhorita. Saímos da senzala para as ruas, com a roupa do corpo, e para ir pra onde? Viver como? Comer o quê?
         - Vamos falar sobre isso. Eu realmente não ouvi falar em um plano de inclusão, oportunidades...
         - Senhorita, viemos achando que talvez possa nos oferecer algo. Se tiver lugar para nós.
         - Claro! Sim... Eu tenho idéias, tenho certeza que faremos algo.
         - Não tem trabalho, casa, comida, serviço... A gente no começo não tinha nada, e no fim parece que tava só começando.




            Maria Vitória engoliu seco.




         - Vamos falar sobre isso. Todos nós, juntos!









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                 Reunidos estavam todos, ouvindo Maria Vitória. Em um tipo de roda, eles ouviam atentamente a garota, que dizia-lhes suas idéias para continuar os trabalhos na fazenda, e o processo de reconstrução.



         - Eu não quero fechar esse lugar, quero dar uma vida nova. Pretendo primeiramente celebrar uma missa, para quem for católico, e tirar as más energias desta casa, com qualquer crença que for do bem.
         - É uma excelente idéia, minha sobrinha! Poderia ser ainda nesta semana, o que acha?
         - Ótima idéia, tio Lázaro! Mas primeiro eu quero limpar muitas coisas, guardar, e me livrar do que não for bom. Destruam quaisquer tipo de instrumento usados para castigos ou algo assim. Vamos fazer uma reforma na senzala, transformar em pequenos dormitórios, para aqueles que desejam ficar.



         - Isso levará algum tempo, minha filha.   - Disse Dandára.
         - Se todos nós trabalharmos juntos, verão que dará certo! Vamos plantar, zelar, e colher... Haverá salários com toda produção da terra, e não existirá feitor e escravo, haverão trabalhadores da fazenda. É tudo que posso oferecer, ao menos nesse primeiro período de liberdade, até estarem prontos e com condições de seguirem suas vidas como desejarem.

Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now