Capítulo 88 - Parte 2

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                      No quarto de Eugênia, Virgínia sentou-se em uma cadeira de frente para a tia, que sentou-se na cama.



         - Aceita algo, minha querida? Posso pedir para trazerem até aqui.
         - Obrigada, tia, mas estou bem.
         - Está certo!
         - Já sabe sobre o que vim falar?
         - Sim, eu imagino. O escândalo no jornal, acertei?
         - Eu tô muito assustada com tudo isso.
         - Acredito que todos estão, é algo muito forte. Mas como chegou até aqui?
         - O Henrique é muito amigo do Celso, ele que me trouxe.
         - Ah sim? Que coincidência, ele é muito gentil.
         - Isso é verdade! Eu fiquei muito surpresa... Não imaginava a senhora morando aqui.
         - Circunstâncias da vida, mas eu quero ter o quanto antes uma casa, algo que era desejo do meu marido.
         - Eu posso ajudá-la a procurar uma casa luxuosa, onde quiser!
         - Será muito bom poder contar com a sua ajuda e opinião.   - Risos.
         - E a Maria Vitória, como está?
         - Não muito bem... Cá entre nós, ela e Fausto terminaram, isso a deixou muito triste.
         - Algum motivo para o término?
         - Não sei, eu acho que foi por eu... Ah, nada, esqueça! Só fico muito preocupada, não queria vê-la tão triste. Eu ainda a chamei para viajar, sair uns tempos daqui, mas claro, fui rejeitada.
         - Viajar para onde?
         - Para a Europa, não sei...
         - Eu vou com a senhora!
         - O quê?
         - Se a senhora realmente quiser viajar, pode me chamar, eu vou com muito gosto. Podemos fazer companhia uma a outra, comprar lindos vestidos, experimentar jóias importadas, conhecer gente civilizada de verdade! O que me diz?
         - Virgínia...   - Sorriu.   - Seria uma experiência maravilhosa para nós duas, mas infelizmente não será possível. Seus pais jamais permitiram uma viagem como essa.
         - Ah claro... Sempre os meus pais para estragarem tudo!
         - Não fala assim, minha querida, eles apenas se preocupam.
         - A Maria Vitória me chateia por ser tão boba! Eu viajaria com a senhora sem pensar duas vezes.
         - Eu iria adorar tê-la comigo, seria uma ótima companheira para passar dias fora do Brasil. Porém, se eu fosse, seria depois do julgamento, apenas. Mas continue me contando, minha querida... Como estão todos?
         - Apreensivos, tia. Meu pai foi com o Celso para ver se conseguem resolver tal situação.
         - Impossível, a cidade inteira já viu, já devem estar falando aos cantos. Aqui mesmo percebi certos olhares para mim, realmente acredito que seja por isso. Ó céus... Sendo assim, agora pensei, o Henrique já sabe quem eu e Maria Vitória somos.
         - Sim, mas não se preocupe, ele... Ele parece ter muita admiração pelas duas.
         - Que bom, ao menos isso.
         - A senhora está trêmula, se sente mal?
         - Não... Só estou um pouco nervosa, só isso.   - Virgínia se aproximou dela e tocou em suas mãos.
         - Suas mãos estão geladas, quer que eu chame alguém?
         - Não! É apenas nervoso...   - Ela quis chorar ainda que sorria.   - É que agora, todos já sabem, não é? Todos estão cientes que eu... Eu sou uma mulher seca, incapaz de gerar um filho... Isso é uma vergonha!
         - Tia, não diga isso. A senhora não pôde ter filhos... E está tudo bem!
         - Não Virgínia, não está. A culpa de ser estéril, essa culpa específica, eu encarregarei para o túmulo.
         - Mas como? A culpa não é da senhora, a vida infelizmente é desse jeito.
         - Mas a minha não deveria ser, apenas isso.
         - Eu não sei como é isso que a senhora sente, mas eu posso entender, eu sei que há uma dor além da dor carnal que machuca muito.
         - Algumas vezes me pego pensando se isso foi um castigo, sabe? Será que eu errei tanto durante toda a minha vida, ao ponto de ser castigada, sendo transformada em uma mulher infértil? Ou será que Leôncio me rejeitava ao ponto de nunca ter me dado a honra de ser mãe de um filho dele?
         - Eu sinto muito por essa sua dor, tia. De verdade!
         - Eu rezei muito para que ninguém nunca soubesse disso, Virgínia. Eu fiz de tudo para impedir... E acho que esse foi o meu maior erro, tanto tive medo, que resultou em uma briga, a briga que fez Leôncio revelar a verdade para a Maria, e cá estou...
         - Eu sei que ser mãe sempre foi o seu maior sonho, tia, mas a senhora precisa reagir! Ficar triste, chorando pelos cantos não resultará em nada.
         - Você tem toda razão, obrigada!
         - Não podem falar da senhora, ninguém ousaria fazer isso.
         - Fariam sim, aliás, todos farão.
         - Do mesmo jeito que falarão de mim quando eu ficar uma velha solteirona.
         - Virgínia, como pode dizer tal, hã?
         - Depois desse escândalo, nenhum homem ousaria se casar com uma das netas do Barão. Principalmente com os nomes de Berenice e Maria Vitória em destaque nas notícias.
         - Minha querida, você é tão bonita, claro que haverá homem para você, lógico!
         - Talvez não, por culpa dos meus pais... Se tivessem me casado antes, estaria livre disso.
         - E talvez infeliz, como eu fui por muito tempo. Fique calma, vai se casar sim! E eu espero muito estar presente para te ver, sim?   - Risos.
         - Estará no altar, ao meu lado, tenha certeza! Eu gosto tanto da senhora, queria muito que a minha mãe fosse assim.
         - Eu também gosto muito de você, Virgínia. Acredito que se eu tivesse tido uma filha, ela seria assim, como você.
         - E teria sido uma garota de sorte! Eu sempre a admirei, a começar pelos belos vestidos que usa, veja só isso, até em luto a senhora consegue ser elegante e bonita!
         - Ai meu Deus, você sempre me fazendo sorrir, não é? Ai Virgínia, muito obrigada por tanto carinho, minha querida... Muito obrigada!   - A abraçou.
         - Tia... Será que eu posso ver a Maria Vitória agora?
         - Bom... Eu a deixei trancada no quarto para evitar que saísse para fazer besteira. Mas Virgínia, eu sei que não se dão bem... O que queres com ela?
         - Eu prometo ser carinhosa, tia, e claro... Não vou provocá-la, mesmo com verdades.
         - Está bem, talvez ela goste da visita. Eu vou destrancar a porta, e você entra, quando quiser sair, me chame, certo?
         - Certinho!
















Escrava Sinhá [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora