Escrava Sinhá [Concluída]

Capítulo 9

                 Chegando na Senzala, Dandára foi ao encontro de sua mãe, lhe dizendo:

         - Mãe, não sabe o que aconteceu.
         - Ai Dandára, diga logo, tu me deixa ansiosa!
         - Estive cara a cara com a minha filha.
         - O quê?   - Cila se assustou.
         - Estive cara a cara com minha filha! A minha Maria Vitória.
         - Mas... Como é possível?
         - Fui ajudar Rosário a arrumar o quarto de Maria. Eu sei que me disse para não ir, mas não me contive, e fui arrumar as coisinhas dela, assim eu me sentiria perto.

                 Dandára começou a se emocionar novamente, Cila entendeu, e também quis chorar. Dandára continuou:

         - Eu ouvi vozes na parte de baixo da casa, e resolvi descer, mas já sabia o risco que eu estava correndo. E quando desci mamãe... Era ela, era ela bem ali na minha frente!
         - E como ela reagiu?
         - Ela me deu um olá. Mãe, ela me tratou com tanta educação, como se eu estivesse visitando a casa, e não como uma escrava. Me olhou sem nojo, me olhou de forma compreensiva, como se já me conhecesse... Ela disse que gostou de mim, e até falou de uma possível amizade entre a gente.
         - Meu Deus, não acredito!
         - Acredite mamãe, minha filha já é uma moça, e de caráter! Eu fiquei sem reação perto dela, mas tentei me controlar.
         - Eu estou tão feliz por você, minha filha. Eu também gostaria de estar perto da minha netinha... Ah como estou feliz!
         - A senhora precisava ver a alegria dela quando viu a Rosário, ela até a abraçou. Fico feliz pela minha filha ser quem ela é... tão linda, tão gentil... Ah mamãe, como eu gostaria de abraçar ela, de cuidar, beijar...
         - Maria Vitória tem pele branca, mas o sangue dela é cheio de histórias é raízes...
         - Sim. Eu espero que ela não perca essa essência dela nunca...
         - E a Rosário?
         - Ficou feliz em ver Maria Vitória. Só não mais feliz que eu (risos). Eu sinto que agora, eu e minha filha estaremos mais próximas, mamãe. Sinto que agora sim eu poderei desfrutar da minha filha, mesmo sem me revelar.
         - Tenha muito cuidado, Dandára... E se alguém do casarão descobre que você esteve com a menina?
         - Pouco me importa, mãe! Eu estive com a minha filha... E essa alegria nem o Leôncio, o Barão, a Eugênia... Nenhum deles vai tirar de mim, só isso!
         - Mesmo assim, que isso permaneça em segredo... Mesmo assim eu comemoro com gosto!

               Cila abraçou Dandára, as duas sorriam, e comemoravam a volta e o possível bom caráter de Maria Vitória.

                 Anoiteceu, e Maria Vitória estava na janela do seu quarto, pensando em sua chegada a fazenda. Pensava em Dandára, Rosário, e no senhor que a trouxe. Pensou em como Cipriano tentou se aproximar dela, em como seu avô a recebeu com frieza, e seus pais com alegria, até que ela pensou em Fausto.

         - Muito bonito, seria interessante se não fosse tão atrevido.

Pensou ela sobre ele, ela então fechou sua janela, e deitou-se para dormir.

                  Na cidade, Fausto conversava com seu irmão sobre o almoço que iriam no dia seguinte. Ele estava disposto a não aceitar o compromisso imposto pelo barão.