Maria Vitória se preparava para sair ajeitando o último botão do seu vestido. Malvina bateu na porta do seu quarto, e a garota permitiu sua entrada.
- Mas vais sair outra vez, Maria Vitória? Fica na rua do quê em casa.
- Bom dia, minha avó! Estou indo até o ministro, quero saber mais sobre os tais papéis para ter a fazenda.
- Se vai até ele poderia ter convidado-me para ir junto. Somos velhos conhecidos! Não se esqueça que graças a mim e ao seu avô que aqueles homens foram soltos, sim? O marido da sua tia, o Celso...
- Sim, vó... Eu me lembro bem, sei da sua influência, mas prefiro ir sozinha, se importa?
- Não, de jeito nenhum! Cada um sabe o que faz. Falando naqueles homens que foram soltos, ontem aquele rapaz o qual você chamava de noivo esteve aqui.
- O Fausto?
- E você teve outro?
- Não! Mas quando esteve aqui?
- Pela tarde.
- E o que ele queria?
- Pertubar! Disse que queria lhe dar os parabéns, e que será a melhor proprietária de fazenda deste país. Mas estava embriagado, acredita?
- O Fausto? Ah vovó... A senhora deve ter se enganado, nunca o vi beber assim.
- Estou lhe dizendo! E ele não foi o único engraçadinho. Vi o promotor entrar em casa bem pior do que ele, um absurdo!
- Será que estavam juntos?
- Provavelmente em um cassino, bar... Não sei! Talvez até com mulheres, vai saber. Coitada da Virgínia, tão bonita mas já está passando vergonha. O seu avô jamais me fez passar por isso, ele sempre foi...
- Vovó... Com licença, eu preciso ir! - Maria se retirou.
- Mas eu não terminei de falar, espera Maria Vitória! Menina...- Mas o que foi?
- A sua filha, Eugênia. Eu tento ser a melhor avó desse mundo, mas ela simplesmente virou-me as costas e saiu.
- Mas aconteceu alguma coisa?
- Sim! A sua filha acaba de ser uma mal criada comigo.
- Ai mãe, estou me referindo se discutiram, ou algo assim?
- Não! Ela foi ver o ministro para resolver a papelada, ou sei lá!
- Ah sim... Então ela estava apressada, nada grave. Estou a tentar fazer um outro bolo na cozinha.
- E você Eugênia, trate de conseguir logo uma empregada para esta casa, não nascemos para viver nessa miséria. Tanto dinheiro e não temos alguém para nos servir?
- Eu vou encontrar alguém logo, não se preocupe.
- Deixa, eu mesma vou me encarregar disso. Tenho muita gente para me indicar moças que saibam tudo de serviço doméstico.
- Está bem, fique à vontade, mamãe. Essa casa também é sua! - Sorriu.
- E vá se arrumar, coloque cor nesse rosto, ajeite esse cabelo. Nunca foi uma mulher sem vaidade, Eugênia... Faça isso!
- Hoje a senhora está mandando, viu, dona Malvina? Farei um chá para acalmar os ânimos. - Brincou.
- Está aprendendo a ser engraçadinha com a Maria Vitória, tome cuidado, Eugênia!Fausto acordou com a cabeça pesada, e se assustou quando viu ele mesmo deitado no sofá até Rosário chegar na sala levando uma xícara com café forte.
- Bom dia, senhor Fausto!
- Rosário... O que faço aqui? Quando eu dormir?
- Ontem a tardezinha eu cheguei em casa com o Bento e o encontrei desmaiado no sofá. Por um momento quase gritei por ajuda, mas ao chegar perto percebi que o motivo do desmaio era muito óbvio.
- Ai... Meu corpo dói, esse sofá não é para dormir, com certeza! - Ele se sentou.
- Toma, bebe esse café forte que eu fiz, vai ajudar a despertar.
- Obrigado! - Ele se pôs a tomar.
- O que aconteceu para beber assim, Fausto?
- Eu sempre bebi, como todos os homens.
- Mas nunca para desmaiar desse jeito. Estava sozinho?
- Acho que me empolguei, e não me lembro de muita coisa. Eu fui pela última vez antes de viajar e começar uma vida mais digna.
- E encheu a cara? Que feio! Sorte sua a Maria Vitória não ter lhe visto.
- E o que teria? Ai... Não deveria ter exagerado.
- Não digo é nada. Do que você se lembra?
- Eu estava bebendo, passei da conta, e chegou o Henrique... Ele também estava com um copo, estava pior do que minha pessoa.
- Dois homens da alta sociedade em um bar? É... Eu não vou dizer nada, viu? Mas que coisa feia!
- Ele parecia que estava comemorando a própria conquista no tribunal. Mas acho que eu já não entendia mais nada, lembro-me dele dizer que está noivo da Virgínia, acredita?
- E está mesmo, você ouviu bem!
- Você jura?
- Anunciaram ontem lá na casa do seu irmão. Ele fez questão de dizer que logo fará parte da família.
- Eu não acredito nisso...
- Pois deve acreditar, sim! Isso é verdade.
- Era para ter desejado os parabéns a Maria Vitória por ter conseguido tudo que conseguiu no tribunal. Principalmente por ter provado que o Barão é quem é.
- Esperávamos você aparecer na reunião, mas estava bastante ocupado.
- Espera aí... Ai meu Deus!
- O que foi?
- Não sei se estive sonhando ou se foi real, mas tenho lembranças de ter estado ontem mesmo na casa da dona Eugênia, e fui recebido pela condessa. Ela chamou-me de bêbado e disse que a Maria não estava.
- Pois a Maria Vitória estava comigo na preparação da dança.
- Eu não acredito que fiz isso...
- Você sabe rezar, Fausto?
- Sei sim, claro!
- Pois então reza pra ter sido só um sonho, ou a condessa ficará por aqui com você. Se é que já não está.
- Eu não vou mais sair de casa até a viagem, eu juro!
- Ah, vai sim, senhor! Terminou o café? Pois é melhor ir se lavar, sua roupa está pura bebida.
- Perdoe-me este constrangimento, Rosário. Que péssimo exemplo eu fui para o Bento.
- O Bento achou que você só estava brincando, certo? E é assim que vai continuar a pensar.
- Obrigado! E perdoe-me outra vez... É... Com licença!
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Escrava Sinhá [Concluída]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, uma das mais belas moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o me...