Capítulo 111

69 5 0
                                    









                    Maria Vitória se preparava para sair ajeitando o último botão do seu vestido. Malvina bateu na porta do seu quarto, e a garota permitiu sua entrada.



         - Mas vais sair outra vez, Maria Vitória? Fica na rua do quê em casa.
         - Bom dia, minha avó! Estou indo até o ministro, quero saber mais sobre os tais papéis para ter a fazenda.
         - Se vai até ele poderia ter convidado-me para ir junto. Somos velhos conhecidos! Não se esqueça que graças a mim e ao seu avô que aqueles homens foram soltos, sim? O marido da sua tia, o Celso...
         - Sim, vó... Eu me lembro bem, sei da sua influência, mas prefiro ir sozinha, se importa?
         - Não, de jeito nenhum! Cada um sabe o que faz. Falando naqueles homens que foram soltos, ontem aquele rapaz o qual você chamava de noivo esteve aqui.
         - O Fausto?
         - E você teve outro?
         - Não! Mas quando esteve aqui?
         - Pela tarde.
         - E o que ele queria?
         - Pertubar! Disse que queria lhe dar os parabéns, e que será a melhor proprietária de fazenda deste país. Mas estava embriagado, acredita?
         - O Fausto? Ah vovó... A senhora deve ter se enganado, nunca o vi beber assim.
         - Estou lhe dizendo! E ele não foi o único engraçadinho. Vi o promotor entrar em casa bem pior do que ele, um absurdo!
         - Será que estavam juntos?
         - Provavelmente em um cassino, bar... Não sei! Talvez até com mulheres, vai saber. Coitada da Virgínia, tão bonita mas já está passando vergonha. O seu avô jamais me fez passar por isso, ele sempre foi...
         - Vovó... Com licença, eu preciso ir!   - Maria se retirou.
         - Mas eu não terminei de falar, espera Maria Vitória! Menina...






         - Mas o que foi?
         - A sua filha, Eugênia. Eu tento ser a melhor avó desse mundo, mas ela simplesmente virou-me as costas e saiu.
         - Mas aconteceu alguma coisa?
         - Sim! A sua filha acaba de ser uma mal criada comigo.
         - Ai mãe, estou me referindo se discutiram, ou algo assim?
         - Não! Ela foi ver o ministro para resolver a papelada, ou sei lá!
         - Ah sim... Então ela estava apressada, nada grave. Estou a tentar fazer um outro bolo na cozinha.
         - E você Eugênia, trate de conseguir logo uma empregada para esta casa, não nascemos para viver nessa miséria. Tanto dinheiro e não temos alguém para nos servir?
         - Eu vou encontrar alguém logo, não se preocupe.
         - Deixa, eu mesma vou me encarregar disso. Tenho muita gente para me indicar moças que saibam tudo de serviço doméstico.
         - Está bem, fique à vontade, mamãe. Essa casa também é sua!   - Sorriu.
         - E vá se arrumar, coloque cor nesse rosto, ajeite esse cabelo. Nunca foi uma mulher sem vaidade, Eugênia... Faça isso!
         - Hoje a senhora está mandando, viu, dona Malvina? Farei um chá para acalmar os ânimos.   - Brincou.
         - Está aprendendo a ser engraçadinha com a Maria Vitória, tome cuidado, Eugênia!














                  Fausto acordou com a cabeça pesada, e se assustou quando viu ele mesmo deitado no sofá até Rosário chegar na sala levando uma xícara com café forte.



         - Bom dia, senhor Fausto!
         - Rosário... O que faço aqui? Quando eu dormir?
         - Ontem a tardezinha eu cheguei em casa com o Bento e o encontrei desmaiado no sofá. Por um momento quase gritei por ajuda, mas ao chegar perto percebi que o motivo do desmaio era muito óbvio.
         - Ai... Meu corpo dói, esse sofá não é para dormir, com certeza!   - Ele se sentou.
         - Toma, bebe esse café forte que eu fiz, vai ajudar a despertar.
         - Obrigado!   - Ele se pôs a tomar.
         - O que aconteceu para beber assim, Fausto?
         - Eu sempre bebi, como todos os homens.
         - Mas nunca para desmaiar desse jeito. Estava sozinho?
         - Acho que me empolguei, e não me lembro de muita coisa. Eu fui pela última vez antes de viajar e começar uma vida mais digna.
         - E encheu a cara? Que feio! Sorte sua a Maria Vitória não ter lhe visto.
         - E o que teria? Ai... Não deveria ter exagerado.
         - Não digo é nada. Do que você se lembra?
         - Eu estava bebendo, passei da conta, e chegou o Henrique... Ele também estava com um copo, estava pior do que minha pessoa.
         - Dois homens da alta sociedade em um bar? É... Eu não vou dizer nada, viu? Mas que coisa feia!
         - Ele parecia que estava comemorando a própria conquista no tribunal. Mas acho que eu já não entendia mais nada, lembro-me dele dizer que está noivo da Virgínia, acredita?
         - E está mesmo, você ouviu bem!
         - Você jura?
         - Anunciaram ontem lá na casa do seu irmão. Ele fez questão de dizer que logo fará parte da família.
         - Eu não acredito nisso...
         - Pois deve acreditar, sim! Isso é verdade.
         - Era para ter desejado os parabéns a Maria Vitória por ter conseguido tudo que conseguiu no tribunal. Principalmente por ter provado que o Barão é quem é.
         - Esperávamos você aparecer na reunião, mas estava bastante ocupado.
         - Espera aí... Ai meu Deus!
         - O que foi?
         - Não sei se estive sonhando ou se foi real, mas tenho lembranças de ter estado ontem mesmo na casa da dona Eugênia, e fui recebido pela condessa. Ela chamou-me de bêbado e disse que a Maria não estava.
         - Pois a Maria Vitória estava comigo na preparação da dança.
         - Eu não acredito que fiz isso...
         - Você sabe rezar, Fausto?
         - Sei sim, claro!
         - Pois então reza pra ter sido só um sonho, ou a condessa ficará por aqui com você. Se é que já não está.
         - Eu não vou mais sair de casa até a viagem, eu juro!
         - Ah, vai sim, senhor! Terminou o café? Pois é melhor ir se lavar, sua roupa está pura bebida.
         - Perdoe-me este constrangimento, Rosário. Que péssimo exemplo eu fui para o Bento.
         - O Bento achou que você só estava brincando, certo? E é assim que vai continuar a pensar.
         - Obrigado! E perdoe-me outra vez... É... Com licença!













Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now