Capítulo 85

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                    No quarto da pensão, Maria Vitória estava sentada na cama, com a cabeça baixa, enquanto ouvia cada palavra dita por Eugênia.



         - Eu faço tudo por você, Maria Vitória, absolutamente tudo, desde quando você chegou para ser minha filha! Eu também não fui a melhor mãe do mundo, mas você passar a noite em uma delegacia? Um absurdo! Eu tive que inventar desculpas, sabia? Mais mentiras ainda aqui nessa pensão por você não ter retornado, e não consegui pregar os olhos a noite inteira pensando em você naquele lugar. Já pensou no seu pai? Leôncio gostaria de saber o que aconteceu? Basta! Saiu escondida, desacatou um guarda, e passou a noite presa, como uma delinquente. Eu mereço isso? Me diz!
         - Eu tentei defender uma amiga, e também fui desrespeitada.
         - Eu que fui desrespeitada por você! Se soubesse a vergonha que estou sentindo, meu Deus, que castigo!
         - Eu sinto muito.   - Ela tentava limpar as lágrimas que corriam em seu rosto.
         - Ah, você sente muito? Será mesmo, Maria Vitória? Pois eu tenho certeza que a Dandára jamais passaria por isso com você, pois parece que você já faz de pirraça, para me atingir!
         - Não é verdade! Eu agi por impulso, e eu não me arrependo. A Rosário enfrentou capatazes, castigo, e tantas coisas por minha causa, eu faria o mesmo por ela.
         - Ah, que coisa linda! É para me emocionar?
         - Não tem jeito, não conseguiremos nos falar agora.
         - Eu realmente mereço levar todos esses tapas, errei muito nessa vida, eu mereço!
         - Depois conversamos.
         - Aonde você vai?
         - Estarei aqui na pensão mesmo, licença!
         - Isso... Vai mesmo, Maria Vitória, pode ir, já te segurei o bastante.




                    Maria Vitória fechou a porta do quarto devagar, e limpou os olhos e o rosto. Desceu as escadas e sentou-se em uma mesa do salão.



         - Aceita uma companhia?
         - Ah, olá Henrique... Eu sinto muito mas não sou a melhor companhia nesse momento.
         - E eu sinto mais ainda, pois terei que me sentar, não poderia deixar-te com os olhos cheios de lágrimas.
         - Pode sim, você nem me conhece.
         - Trocamos algumas palavras, mas sinto que és muito especial, Maria Vitória. Se queres um amigo, converse comigo, estou a lhe ouvir.
         - É muita gentileza sua, mas não posso conversar sobre isso com você.
         - Problemas com a dona Eugênia, não é?
         - Como sabes?
         - Ontem ela estava assim como você, até se sentiu mal. Problemas familiares imagino.
         - É muito difícil, principalmente quando não nos entendemos na maioria das vezes.
         - Vocês duas me parecem ter personalidades bastante distintas, não é mesmo?
         - Bastante! Não teria como ser diferente, afinal, acredito que eu tenha muito mais da minha mãe mesmo.
         - Como assim, a sua mãe não é a dona Eugênia?
         - Esqueça o que eu disse.
         - Como quiser   - Ele olhou no relógio.   - Oh, não! Já está quase na hora de ir, tenho tanto para fazer.
         - Eu não quero atrapalhar, pode ir! Já me sinto muito bem.
         - Eu não queria deixá-la sozinha.
         - Henrique, você é muito generoso, mas eu ficar realmente ficar sozinha. Mesmo assim eu agradeço por tentar me confortar!
         - Eu vou respeitar o que queres, mas depois, eu vou procurá-la para saber se realmente melhorou, sim?
         - Agradecida!   - Risos.
         - Até mais tarde!












Escrava Sinhá [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora