No dia seguinte, Maria Vitória acordou e foi direto para a cozinha atrás de Cila. Ela contou tudo o que viveu, e Cila lhe disse o quanto a cesta foi útil, e o quanto Rosário ficou agradecida.
- Fico muito feliz que ela gostou.
- Eu também fico muito feliz por você ter se divertido ontem.
- Vó, se visse como Fausto pareceu sincero.
- É, mas pelo o que você contou, parece que você às vezes exagera com ele, não é?
- Eu não quero dar muita confiança, por isso as vezes sou grossa, mas eu gosto dele.
- Isso é tão bom! Espero que se resolvam, e possam ficar bem.
- E a Rosário, não trabalha aqui no casarão?
- Ela limpa os outros cômodos da casa, veja, percebe que agora não estou sozinha aqui na cozinha, tem muitas outras escravas.
- É verdade, percebi. Eu não quero atrapalhar, mas gostaria de ver a Rosário.
- Eu acho que ela está na parte de cima do casarão, lá pelo outro lado.
- Por isso que não encontrei ela, só vi outras mulheres do lado onde fico, elas estavam esfregando o chão.
- Sim, a Rosário sempre fica do outro lado, e limpa os quartos, e outros lugares, que por ficarem tão fechados acabam cheios de poeira.
- Parece mentira, mas eu não conheço quase nada daqui.
- Sim, eu acredito, passou tantos anos fora...
- Mas sinto que nem mesmo os meus pais conhecem muito daqui.
- É... É que o Barão sempre foi muito conservador, ainda mais por aqui ter muitas antiguidades.
- Que tipo de antiguidades?
- Muitas coisas, não acha? É só olhar ao redor.
- É... Verdade. Bom, eu vou subir novamente para o meu quarto, até logo. - Maria deu um beijo no rosto de Cila.
- Até logo, menina.Rosário estava descendo as escadas quando se deparou com Maria Vitória.
- Rosário?! Que bom te ver! Agora pouco estava falando de você com a Vó... Dona Cila.
- Como vai, Maria Vitória? Eu queria mesmo te ver para agradecer pela cesta de comida, fiquei muito feliz!
- Não precisa agradecer... Não tinha muita coisa na cesta, mas...
- Como assim não tinha muita coisa? Todos ficaram satisfeitos, dividi com todos da senzala. Naquele cesta tinha mais comida do que estamos acostumados.
- Como é? Rosário... Como é a alimentação de vocês?
- Vai me dizer que você não sabe? Você nos serviu um banquete, Maria Vitória! Aqui nessa fazenda, nós comemos apenas os restos, carne é bem raro, e isso quando o Barão está com humor. A comida é bem pouca, pois tem que dar para todos, nós misturamos os restos que recebemos em uma espécie de caldeirão que inventamos, e é isso que comemos.
- Eu não sabia disso... - Maria Vitória falou lacrimejando.
- Pois é... Nossa vida é assim, mas agora eu tenho que ir, quero fazer tudo que puder antes da tal aula.
- Eu gostaria de ajudar nessas aulas que minha prima Berenice dará.
- Me diz uma coisa, Maria Vitória... Quais as intenções dessas aulas?
- Que vocês tenham o mesmo direito que nós, eu acredito.
- Mas o seu avô concordou muito rápido com tudo isso, não acha estranho?
- Berenice me disse que teve métodos para convencê-lo. Por favor, Rosário, não desconfie da bondade de Berenice, ela tem um coração enorme, e com certeza fará tudo de muito boa vontade.
- Está bem... Eu tenho que vir mesmo, são ordens do Barão. Mas espero que essa tal educação que vamos receber, não tenha nada haver com a compra, e venda de escravos. Nós já somos vendidos como objetos, ter que aprender o que o branco quer para que isso aconteça, seria demais... Obrigada novamente, Maria Vitória, até logo.
- Até logo, Rosário... Na verdade... Espera aí.
- O que foi?
- Quero que saiba que levarei uma cesta de coisas um dia sim, e outro não, levarei escondido.
- Fala sério?
- Muito, mas vou precisar da sua ajuda, e também da ajuda da Dona Cila.
- Mas é claro que ajudo, não por mim, mas pelos outros, principalmente mais velhos, e os mais novos.
- Tem escravos pequenos na Senzala?
- Trabalham tanto como nós.
- Meu Deus!
- Essa é a realidade, sinhá...
- Não sei como, mas ainda fico perplexa com tanta barbaridade.
- Até eu fico...
- Então faremos cestas dobradas, amanhã mesmo entregarei outra.
- Mas os capatazes rondam as senzalas. No dia em que você esteve lá, teve sorte que nenhum te viu.
- Eu darei um jeito, não se preocupe. Mas você terá que me prometer uma coisa.
- O quê?
- Você virá para as aulas, e se dedicará. Pense que tudo isso servirá e muito para a sua liberdade, que eu tenho certeza que não demorará chegar.
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Escrava Sinhá [Concluída]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, uma das mais belas moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o me...