Capítulo 28

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                       No dia seguinte, Maria Vitória acordou e foi direto para a cozinha atrás de Cila. Ela contou tudo o que viveu, e Cila lhe disse o quanto a cesta foi útil, e o quanto Rosário ficou agradecida.


         - Fico muito feliz que ela gostou.

         - Eu também fico muito feliz por você ter se divertido ontem.
         - Vó, se visse como Fausto pareceu sincero.
         - É, mas pelo o que você contou, parece que você às vezes exagera com ele, não é?
        - Eu não quero dar muita confiança, por isso as vezes sou grossa, mas eu gosto dele.
        - Isso é tão bom! Espero que se resolvam, e possam ficar bem.
        - E a Rosário, não trabalha aqui no casarão?
        - Ela limpa os outros cômodos da casa, veja, percebe que agora não estou sozinha aqui na cozinha, tem muitas outras escravas.
        - É verdade, percebi. Eu não quero atrapalhar, mas gostaria de ver a Rosário.
        - Eu acho que ela está na parte de cima do casarão, lá pelo outro lado.
        - Por isso que não encontrei ela, só vi outras mulheres do lado onde fico, elas estavam esfregando o chão.
        - Sim, a Rosário sempre fica do outro lado, e limpa os quartos, e outros lugares, que por ficarem tão fechados acabam cheios de poeira.
       - Parece mentira, mas eu não conheço quase nada daqui.
       - Sim, eu acredito, passou tantos anos fora...
       - Mas sinto que nem mesmo os meus pais conhecem muito daqui.
        - É... É que o Barão sempre foi muito conservador, ainda mais por aqui ter muitas antiguidades.
         - Que tipo de antiguidades?
         - Muitas coisas, não acha? É olhar ao redor.
         - É... Verdade. Bom, eu vou subir novamente para o meu quarto, até logo.  - Maria deu um beijo no rosto de Cila.
         - Até logo, menina.




                     Rosário estava descendo as escadas quando se deparou com Maria Vitória.



             - Rosário?! Que bom te ver! Agora pouco estava falando de você com a Vó... Dona Cila.
            - Como vai, Maria Vitória? Eu queria mesmo te ver para agradecer pela cesta de comida, fiquei muito feliz!
           - Não precisa agradecer... Não tinha muita coisa na cesta, mas...
           - Como assim não tinha muita coisa? Todos ficaram satisfeitos, dividi com todos da senzala. Naquele cesta tinha mais comida do que estamos acostumados.
           - Como é? Rosário... Como é a alimentação de vocês?
           - Vai me dizer que você não sabe? Você nos serviu um banquete, Maria Vitória! Aqui nessa fazenda, nós comemos apenas os restos, carne é bem raro, e isso quando o Barão está com humor. A comida é bem pouca, pois tem que dar para todos, nós misturamos os restos que recebemos em uma espécie de caldeirão que inventamos, e é isso que comemos.
            - Eu não sabia disso...  - Maria Vitória falou lacrimejando.
           - Pois é... Nossa vida é assim, mas agora eu tenho que ir, quero fazer tudo que puder antes da tal aula.
          - Eu gostaria de ajudar nessas aulas que minha prima Berenice dará.
          - Me diz uma coisa, Maria Vitória... Quais as intenções dessas aulas?
          - Que vocês tenham o mesmo direito que nós, eu acredito.
          - Mas o seu avô concordou muito rápido com tudo isso, não acha estranho?
          - Berenice me disse que teve métodos para convencê-lo. Por favor, Rosário, não desconfie da bondade de Berenice, ela tem um coração enorme, e com certeza fará tudo de muito boa vontade.
          - Está bem... Eu tenho que vir mesmo, são ordens do Barão. Mas espero que essa tal educação que vamos receber, não tenha nada haver com a compra, e venda de escravos. Nós já somos vendidos como objetos, ter que aprender o que o branco quer para que isso aconteça, seria demais... Obrigada novamente, Maria Vitória, até logo.
           - Até logo, Rosário... Na verdade... Espera aí.
           - O que foi?
           - Quero que saiba que levarei uma cesta de coisas um dia sim, e outro não, levarei escondido.
           - Fala sério?
           - Muito, mas vou precisar da sua ajuda, e também da ajuda da Dona Cila.
           - Mas é claro que ajudo, não por mim, mas pelos outros, principalmente mais velhos, e os mais novos.
           - Tem escravos pequenos na Senzala?
           - Trabalham tanto como nós.
           - Meu Deus!
           - Essa é a realidade, sinhá...
           - Não sei como, mas ainda fico perplexa com tanta barbaridade.
           - Até eu fico...
           - Então faremos cestas dobradas, amanhã mesmo entregarei outra.
           - Mas os capatazes rondam as senzalas. No dia em que você esteve lá, teve sorte que nenhum te viu.
          - Eu darei um jeito, não se preocupe. Mas você terá que me prometer uma coisa.
          - O quê?
          - Você virá para as aulas, e se dedicará. Pense que tudo isso servirá e muito para a sua liberdade, que eu tenho certeza que não demorará chegar.

Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now