Capítulo 30

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                    Leôncio permaneceu olhando para Dandára e Edmundo.


        - Me perdoe, Senhor. Vim apenas para ver como está a Dandára.
        - Por acaso ela está doente?
        - Não senhor.
        - Então não tem motivos para vê-la no horário em que deveria estar fazendo os seus serviços.
        - Me desculpe.
        - Volte para o que estava fazendo, e me agradeça por não castigá-lo.
        - Sim, Senhor. Mas quero que saiba que Dandára não teve culpa nenhuma.
        - Volte para o que você estava fazendo, eu já disse!



                  Edmundo olhou para Leôncio, e saiu, mas temeu do que poderia acontecer ali.




                     Leôncio desceu do cavalo, e direcionou-se para Dandára.



        - O que ele fazia aqui?
        - Ele disse, senhor, veio apenas saber como eu estava.
        - Mas você não está doente.
        - Eu poderia estar doente, mas me mantive forte todos esses anos.



               Leôncio olhou seriamente para Dandára.



        - O que quer dizer?
        - Sabe o que eu quis dizer, Senhor.
        - E desde quando você me chama de senhor?
        - Desde quando foi me dada essa ordem, não se lembra?




                 Leôncio ficou pensativo.



        - Foi me dada essa ordem na noite em que o senhor levou a minha filha, não se lembra?
        - Sim... Claro que me lembro.
        - Pois então é isso, e se o senhor me permitir, voltarei a fazer o que sempre fiz.
        - Eu gostaria de falar com você.
        - Tem algo para me falar depois de tantos anos?
        - Tenho.
        - Então pode dizer.
        - Dandára...   - Leôncio parou de falar.
        - O que ia me dizer?
        - Que eu...    - Ele ficou pensativo novamente.   - Eu acho que não deveria ficar se lamentando por algo que aconteceu a muitos anos atrás. Maria Vitória está crescida, e feliz sabendo que é minha filha, e de Eugênia.
        - Para o senhor é fácil falar, pois sua vida é fácil. Eu não me lamento mais sobre o passado, pois a vida tem sido muito boa para mim.
        - Imagino que esteja recomeçando com aquele escravo.
        - Estou recomeçando sozinha, e se o senhor está tão interessado, saiba que esse meu recomeço, tem muito a ver com a minha filha.
        - Do que você está falando?
        - Estou falando sobre muitas coisas, Senhor. Mas não se preocupe, o senhor logo saberá.
        - Não pense em chegar perto da Maria Vitória!
        - Isso a vida dirá, agora, me dê licença, tenho serviços para continuar.
        - Não brinque, Dandára.
        - Quem brinca aqui é o senhor, enquanto eu falo sério.
        - Está me desafiando?
        - Não, estou lhe avisando de que a minha vida dará voltas, e que a vida ainda irá me favorecer.
        - Você mudou muito.
        - É mesmo? Nem eu mesma reparei.
        - Você sabe que se fosse por mim, tudo teria sido diferente.
        - Mas estava em suas mãos, tudo estava em suas mãos, mas o senhor escolheu vosso caminho, e agora estamos aqui, e somos apenas dois estranhos. O senhor não me conhece, e nem eu o reconheço, assim será, sempre.

Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now