Capítulo 66

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                       Maria Vitória acordou, e Rosário estava de pé.



         - Bom dia!
         - Bom dia, Maria Vitória! Nossa, como você dormiu!
         - Ué... Está acordada a muito tempo?
         - Acordei cedinho, acho que no horário de sempre. E fiquei aqui, só esperando tu.
         - Me esperando?
         - Sim, eu não ia sair do quarto, aqui não é minha casa, morro de vergonha. Além de quê, isso aqui é enorme, capaz de que eu me perdesse nessa casa!
         - Ai Rosário, não exagera.
         - É verdade, ó, isso aqui ainda é maior do que aquele casarão.
         - Por falar no casarão, como será que tudo ocorreu por lá?
         - Bom... O Barão deve ter acordado, deve tá enfurecido.
         - Eu bem imagino como deve estar. Fico preocupada, com medo do que ele pode fazer.
         - Aquele velho tá com raiva. Mas imagina só o Cipriano que passou a noite toda amarrado, hein?
         - Nossa... Esse deve estar com o ódio maior já visto. Porém, ele passou pelo que nós também passamos.
         - Ele é trem ruim, deveria ter aquilo a muito, muito tempo. Finalmente teve o que merecia.
         - É verdade. Uma pena as vidas que se perderam ontem...
         - Aquilo já foi pior, Maria Vitória. Muito pior...  vi pessoas tendo os pés cortados ao tentar fugir, a língua, tortura ao extremo. A morte perto dessas coisas, não é nada. É mais um livramento.
         - Você fala de um jeito...
         - Um jeito vivido, só isso. A escravidão dói, tu mesmo viu. Para nós, muitas vezes a morte pode não ser algo ruim, ela é nossa esperança. Dizem que algumas pessoas vão para o céu, pra um tal de paraíso. E a morte pode levar pra lá. Então... É assim que alguns escravos veem.
         - Que horror! Apesar de ter vivido isso... Ou quase isso, eu tenho a impressão de que não sei de nada.
         - Você é branca, é normal não saber de quase nada. Mas quem é preto, nasce sabendo. nasce obrigado a saber.



                     Maria Vitória derramou uma lágrima.


         - Mas esqueça. Me dê seu braço.
         - Para quê?
         - Menina, isso aqui tá ferido por demais. Olha só... Tens que tratar.
         - Doeu durante a noite, mas já já sara.
         - Não, não... Nós vamos atrás da dona Cila, e vamos saber como tratar isso. Ela vai fazer um curativo melhor.




                    Elas ouviram o portão da casa se abrir.


         - Ih, acho que alguém chegou.
         - Olha, é a minha tia, junto a Berenice, e meu tio Peixoto.
         - Vai se arrumar então, vieram para te ver... Mas tem outra pessoa chegando.
         - E quem é?
         - É muito bonito. Vixe, é o Fausto!
         - Fausto? Tu tens certeza?
         - Eu conheço aquele rapaz, olha lá, não é ele?
         - É sim. Ai meu Deus, o que eu faço?
         - Vai se arrumar para o rapaz, ué.
         - Sim, mas... É isso. Mas não sei o que vou falar, Rosário.
         - Chega , abraça o rapaz, e pergunta do casamento.
         - Não posso fazer isso. Sabe, eu não quero parecer que estou desesperada.
         - Mas você está sim, Maria Vitória. Vivia falando do rapaz. Tu queres ver ele, vá logo, minha amiga!
         - Mas preciso de uma roupa adequada.
         - Eita... As roupas, todas estão na fazenda.
         - E agora?



Escrava Sinhá [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora