Capítulo 63

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                       No dia seguinte, Cipriano estranhou os escravos não estarem de pé. Pois, muitas vezes, nem precisava chamá-los.



         - O que há?    - Perguntou ele para o capataz de guarda.
         - Cantaram, dançaram, e bateram os tambores quase a noite toda.
         - O quê? E você permitiu?
         - O que poderia fazer? Com certeza estavam fazendo aqueles rituais esquisitos.
         - Bando de bruxos! Se querem fazer baderna, que façam trabalhando!
         - E se eles... Estivessem fazendo algo contra... Essa fazenda? Como por exemplo uma praga?
         - Então você deveria ter impedido, imbecil!  Agora vá, saia da minha frente! Esses escravos vão se arrepender... Saia!
         - Claro... É... estou saindo.




                     Cipriano abriu a porta, e deparou-se com os escravos dormindo. Ele então, gritou para que todos acordassem, fazendo eles levantarem em um pulo.




         - E então... Cantaram? Dançaram? E com certeza beberam...  Bando de inúteis. Façam isso... É o mínimo que podem fazer para tentar fugir dessa vida miserável de vocês. Mas não se esqueçam, vocês têm trabalho. Todos de pé! Ou todos irão para o tronco!




                    Cipriano bateu com o chicote no chão, e saiu, deixando os escravos assustados.




         - É... Amanheceu.   - Disse Rosário.
         - E agora estamos aqui, prontos para a noite, certo?  - Perguntou Edmundo.



          - Certo!   - Responderam.



         - Quando a família chegar, farão um sinal, como uma coruja. Não me perguntem como, quem fará é a senhorita Virgínia.  - Disse Rosário.
         - A Virgínia? Ela virá?   - Perguntou Maria Vitória.
         - Tem uma idéia para distrair o capataz da porteira, espero que dê certo.




                 Maria Vitória sentou-se atordoada, e sentiu-se feliz, pois chegou o dia de ir embora, e de se ver livre. Tudo haveria de dar certo. Os escravos também seriam libertados das garras do Barão, vivendo longe.



         - Está cansada, filha?
         - Na verdade estou bem disposta.
         - Que bom! Fico imensamente feliz por isso, te ver bem é uma alegria. Ainda sente febre?
         - Não... Até agora nada. Acho que a notícia de estar livre hoje mesmo, fez com que eu me empolgasse, e acabasse melhorando.
          - Fico tão aliviada, pois pensei que te perderia. Quase não estava acordando, mal ficava de pé...
          - A fraqueza ainda está em mim, mas não me impedirá. Estou bem para ir até a horta, campo, ou o que for preciso. Sei que a noite estarei fora daqui.
         - Meu coração até fica apertado...
         - Ei, tu vais comigo, não se preocupe.
         - Não é isso... É que tenho medo... Essa invasão na fazenda me parece um tanto perigosa.
         - Não se preocupe, tudo ocorrerá bem.
         - Maria Vitória, esses capatazes estão todos armados. São muitos, não sei exatamente o que pode acontecer... Eu tenho tanto medo, meu coração está tão aflito...
         - Fique calma, tenha energias positivas! Tranquilize-se.




Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now