O guarda segurava forte no braço de Rosário, e a mesma insistia em se explicar, mas sem sucesso.
- Por favor... Eu juro que sou livre! Não tenho dono nenhum... O que estou fazendo aqui é arte, é cultura.
- Vai se explicar na delegacia, menina! Vamos logo... Não me faça perder a paciência!
Rosário olhou para Bento.
- Vá embora, Bento... Corre! Avisa o Celso, o Fausto... Corre, Bento! - Ela gritou.
- Mas Rosário...
- Vai logo, Bento! Eu sei que você vai conseguir chegar sozinho lá, seja forte!Rosário foi arrastada pelo guarda da praça que segurava em seu braço com força. Bento sentiu-se perdido, e por um momento não sabia por onde deveria ir, para chegar na casa do falecido coronel.
Eugênia estava na modista e encomendava vestidos na cor preta, todos luxuosos, assim como luvas e chapéus.
- Dona Eugênia, em breve tudo estará pronto!
- Ótimo! Depois de prontos nos acertamos.
- Mas... A senhora está com coragem, pois esses tecidos são incrivelmente pesados e quentes, não condizem com o clima do Brasil, tanto que estão aqui a tempos, praticamente ninguém os compra.
- Mas não são para usar aqui no Brasil, madame.
- Ah, não?
- Não. Serão usados na Europa, pretendo viajar em breve.
- É mesmo? E vai a passeio?
- Ainda não decidi.
- E vai sozinha?
- Claro que não, vou levar comigo a única lembrança e herança que o meu marido me deixou... Nossa filha... A Maria Vitória.
- Mas a menina não está de casamento marcado?
- Marcado não! Está noiva, mas eu já não acho que seja o melhor para ela.
- Mas como não? Um partido tão bom como um dos filhos do coronel!
- A Maria Vitória é a maior lembrança do meu marido, não permitirei que ela fique longe de mim. Já a convenci de ir para a pensão, depois convencerei ela a viajar, mas não sei se voltamos.
- Tome cuidado, dona Eugênia... Pode perder o amor da menina, não acha?
- Foi a única filha que tive na vida, meu tempo para ter outro acabou, e sem o meu marido... Enfim, que fique claro que não quero levar Maria Vitória comigo para que não se case. Mas dizem que o fim da escravidão, definitivamente, pode estar próximo... E se isso acontecer, eu sei que será o fim definitivo do laço de amor que resta entre mim e Maria Vitória, eu sei disso. - Eugênia fechou os olhos, mas segurou as lágrimas, pensou assim em Dandára.
Maria Vitória reparou em seu retrato na sala, enquanto Fausto chegava com copos de refrescos.
- Aqui está, refrescos de laranja para nós! Vamos conversar melhor, e se refrescar ao mesmo tempo.
- Eu não tinha visto minha foto aqui nessa mesinha. - Ela sorria.
- Você gostou?
- Adorei!
- Você ficou muito bem em uma fotografia.
- Muito obrigada! Mas e a sua, e a que tiramos juntos?
- Estão ali. - Ele apontou para a lareira.
- Ficaram incríveis, Fausto!
- Logo teremos muitas outras fotografias. Agora... Quem sabe um retrato pintado?
- Já foi uma confusão para tirar essas fotografias, imagina para uma pintura, Fausto?
- Não custa nada tentar, certo?
- Um dia tentaremos - Risos. - O suco está muito bom, você que fez?
- Obviamente, Maria Vitória.
- Tem certeza que não foi a Rosário?
- Já te mostrei que tenho jeito na cozinha.
- Uma sopa todo mundo pode fazer.
- Ah é? E um doce de ameixa também, sabia? - Ele cruzou os braços.
- Prontos, estamos empatados, outra vez!
- Sim... Outra vez! - Fausto a beijou.
- Ah sim... Esqueci de te contar, ontem jantei com um promotor de justiça, mas foi por não ter uma mesa para mim e a mãe Eugênia.
- E quem era esse promotor?
- Ninguém importante, mas estou lhe avisando por ele ter me parecido uma boa pessoa, além disso já o tinha visto antes.
- Onde?
- Quando voltamos do sítio, e eu fui até a minha mãe Dandára na fazenda, acabamos esbarrando na rua, e não foi nem um pouco agradável, mas nos entendemos.
- Ah é? E ele vive na pensão?
- Por um determinado tempo, logo se mudará.
- Hum... E o endereço, não vais me dar o endereço da pensão?
- Não o tenho decorado na mente, mas mandei em um papel pela minha mãe Eugênia, e sei que o mensageiro trará.
- Por que não trouxe o papel com você já que viria aqui?
- Assim teria certeza de que minha mãe Eugênia demoraria mais na rua, teríamos mais tempo.
- Ai ai... Não gosto muito disso, de estarmos como dois fugitivos. E agora tem esse tal promotor aí... Esse homem não lhe cantou em nenhum momento, Maria Vitória?
- Assim você me ofende, Fausto!
- Estou brincando com você, mocinha! - Risos. - Mas eu quero lhe visitar algum dia na pensão, para deixar claro para todos que já existe espaço neste coração.
- E como tu sabes que tens um espaço no meu coração?
- Todos os sinais estão ao meu favor.
- Todos os sinais são positivos, você está certo! - Maria Vitória iria beijá-lo, mas a entrada rápida de Bento na casa fez com que parassem.
![](https://img.wattpad.com/cover/201348583-288-k831901.jpg)
YOU ARE READING
Escrava Sinhá [Concluída]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, uma das mais belas moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o me...