Capítulo 84 - Parte 2

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                  O guarda segurava forte no braço de Rosário, e a mesma insistia em se explicar, mas sem sucesso.



         - Por favor... Eu juro que sou livre! Não tenho dono nenhum... O que estou fazendo aqui é arte, é cultura.
         - Vai se explicar na delegacia, menina! Vamos logo... Não me faça perder a paciência!
        




            Rosário olhou para Bento.




         - Vá embora, Bento... Corre! Avisa o Celso, o Fausto... Corre, Bento!  - Ela gritou.
         - Mas Rosário...
         - Vai logo, Bento! Eu sei que você vai conseguir chegar sozinho lá, seja forte!





                    Rosário foi arrastada pelo guarda da praça que segurava em seu braço com força. Bento sentiu-se perdido, e por um momento não sabia por onde deveria ir, para chegar na casa do falecido coronel.


















                    Eugênia estava na modista e encomendava vestidos na cor preta, todos luxuosos, assim como luvas e chapéus.



         - Dona Eugênia, em breve tudo estará pronto!
         - Ótimo! Depois de prontos nos acertamos.
         - Mas... A senhora está com coragem, pois esses tecidos são incrivelmente pesados e quentes, não condizem com o clima do Brasil, tanto que estão aqui a tempos, praticamente ninguém os compra.
         - Mas não são para usar aqui no Brasil, madame.
         - Ah, não?
         - Não. Serão usados na Europa, pretendo viajar em breve.
         - É mesmo? E vai a passeio?
         - Ainda não decidi.
         - E vai sozinha?
         - Claro que não, vou levar comigo a única lembrança e herança que o meu marido me deixou... Nossa filha... A Maria Vitória.
         - Mas a menina não está de casamento marcado?
         - Marcado não! Está noiva, mas eu já não acho que seja o melhor para ela.
         - Mas como não? Um partido tão bom como um dos filhos do coronel!
         - A Maria Vitória é a maior lembrança do meu marido, não permitirei que ela fique longe de mim. Já a convenci de ir para a pensão, depois convencerei ela a viajar, mas não sei se voltamos.
         - Tome cuidado, dona Eugênia... Pode perder o amor da menina, não acha?
         - Foi a única filha que tive na vida, meu tempo para ter outro acabou, e sem o meu marido... Enfim, que fique claro que não quero levar Maria Vitória comigo para que não se case. Mas dizem que o fim da escravidão, definitivamente, pode estar próximo... E se isso acontecer, eu sei que será o fim definitivo do laço de amor que resta entre mim e Maria Vitória, eu sei disso.   - Eugênia fechou os olhos, mas segurou as lágrimas, pensou assim em Dandára.
   















                    Maria Vitória reparou em seu retrato na sala, enquanto Fausto chegava com copos de refrescos.



         - Aqui está, refrescos de laranja para nós! Vamos conversar melhor, e se refrescar ao mesmo tempo.
         - Eu não tinha visto minha foto aqui nessa mesinha.  - Ela sorria.
         - Você gostou?
         - Adorei!
         - Você ficou muito bem em uma fotografia.
         - Muito obrigada! Mas e a sua, e a que tiramos juntos?
         - Estão ali.  - Ele apontou para a lareira.
         - Ficaram incríveis, Fausto!
         - Logo teremos muitas outras fotografias. Agora... Quem sabe um retrato pintado?
         - Já foi uma confusão para tirar essas fotografias, imagina para uma pintura, Fausto?
         - Não custa nada tentar, certo?
         - Um dia tentaremos   - Risos.  - O suco está muito bom, você que fez?
         - Obviamente, Maria Vitória.
         - Tem certeza que não foi a Rosário?
         - Já te mostrei que tenho jeito na cozinha.
         - Uma sopa todo mundo pode fazer.
         - Ah é? E um doce de ameixa também, sabia?  - Ele cruzou os braços.
         - Prontos, estamos empatados, outra vez!
         - Sim... Outra vez!  - Fausto a beijou.
         - Ah sim... Esqueci de te contar, ontem jantei com um promotor de justiça, mas foi por não ter uma mesa para mim e a mãe Eugênia.
         - E quem era esse promotor?
         - Ninguém importante, mas estou lhe avisando por ele ter me parecido uma boa pessoa, além disso já o tinha visto antes.
         - Onde?
         - Quando voltamos do sítio, e eu fui até a minha mãe Dandára na fazenda, acabamos esbarrando na rua, e não foi nem um pouco agradável, mas nos entendemos.
         - Ah é? E ele vive na pensão?
         - Por um determinado tempo, logo se mudará.
         - Hum... E o endereço, não vais me dar o endereço da pensão?
         - Não o tenho decorado na mente, mas mandei em um papel pela minha mãe Eugênia, e sei que o mensageiro trará.
         - Por que não trouxe o papel com você já que viria aqui?
         - Assim teria certeza de que minha mãe Eugênia demoraria mais na rua, teríamos mais tempo.
         - Ai ai... Não gosto muito disso, de estarmos como dois fugitivos. E agora tem esse tal promotor aí... Esse homem não lhe cantou em nenhum momento, Maria Vitória?
         - Assim você me ofende, Fausto!
         - Estou brincando com você, mocinha!   - Risos.   - Mas eu quero lhe visitar algum dia na pensão, para deixar claro para todos que já existe espaço neste coração.
         - E como tu sabes que tens um espaço no meu coração?
         - Todos os sinais estão ao meu favor.
         - Todos os sinais são positivos, você está certo!   - Maria Vitória iria beijá-lo, mas a entrada rápida de Bento na casa fez com que parassem.



Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now