Maria Vitória saiu cedo da pensão sem dizer aonde ia, aproveitando que Eugênia deixou a porta destrancada. Ela saiu sozinha pelas ruas com um vestido em tom rosado e um casaco da mesma cor por cima, e seu cabelo preso pela metade.
Chegando no tal jornal, ela bateu na porta com força, e foi atendida por um homem alto, um pouco forte e de cabelos grisalhos.
- Eu posso ajudar?
- Pode, claro! Quem é o redator desse jornal?
- Sou eu mesmo, e você, quem é?
- Ah... É o senhor? Bom... Muito bom! Eu sou Maria Vitória Álvares Real, a mesma que o senhor fez questão de difamar ontem entre as linhas de notícias. Posso entrar para conversarmos?
- Eu não sei... - Ele a olhou dos pés a cabeça. - Não quero problemas, por gentileza, retire-se!
- Se não me deixar entrar falarei aqui mesmo. Não sairei dessa porta até me ouvir.
- Está bem, entre! - Ele se afastou para ela entrar.
- Obrigada!
- Estou sozinho aqui, seja rápida. O que você quer? - Ele parou encostando-se na parede.
- Eu mesma me convidaria para me sentar, mas...
- Aqui não é minha casa, é o meu local de trabalho.
- Certo... Gostei, bem direto. Eu também serei bem direta... Eu quero saber quem lhe passou as tais informações que publicou ontem em seu jornal.
- Como tens tanta certeza que alguém me passou? Eu poderia muito bem ter investigado.
- Não perderia o seu tempo, é um jornalista não detetive. Eu tenho certeza que alguém veio até aqui e lhe contou, e com aumento nas histórias.
- Seu tio... Imagino que seja o seu tio, esteve aqui ontem, o Lázaro, junto com o genro dele, Celso. Já me ameaçaram de processo e tudo, o que quer mais?
- Moço, apenas um nome, nada além disso. Foi pago para guardar segredo?
- Não, eu não fui.
- E o que tem a perder?
- Está bem, eu direi. Um capataz da fazenda do Barão esteve aqui, mas não me revelou o nome, apenas do mandante.
- Mandante? E quem foi?
- Um sujeito com o nome de Cipriano.
- O Cipriano? Eu não acredito... Aquela peste continua a infernizar?!
- Eu não sei, e não me importa. Publiquei pois sabia que causaria alvoroço, e muitos procurariam o jornal, e assim aconteceu. A senhorita já pode ir embora.
- Vais mesmo publicar uma nova edição, mas dessa vez com a verdade?
- Vou... Com a verdade sobre a prisão do Barão Leopoldo.
- Muito obrigada! Agradeço também pela atenção.
- Por favor, saia! Pode dar problemas para mim.
- Certo! Não o incomodarei mais. - Ela se retirou.Maria Vitória respirou fundo ao sair do jornal, e se sentiu aliviada. Ela seguiu em direção ao gabinete do ministro para fazer algo o qual lhe deu muita vontade.
Dandára avistou Lázaro de longe, e tentou alcançá-lo, mas um capataz a segurou. Ela então se pôs a gritar o nome do primogênito, que logo interveio para que fosse solta.
- Senhor, muito obrigada!
- O que queres comigo?
- Eu sou a Dandára... Mãe da Maria Vitória.
- A reconheci agora. Algum problema?
- Eu soube do jornal, não se comentou outra coisa aqui. Eu queria muito saber da minha filha... Desde ontem sinto um aperto no peito, e pensei que ela pudesse estar sofrendo, visto que saiu o nome dela nas páginas.
- Para ser sincero eu não estive com a Maria Vitória, não a vi. Minha filha Virgínia foi até a pensão, mas não me falou muito sobre a Maria.
- Tem alguma forma de entrar em contato com ela? Eu preciso muito de notícias... Já me basta ficar presa aqui sem poder ajudá-la.
- Eu sinto muito Dandára, mas você é uma escrava do meu pai, cativa da fazenda... Eu poderia liberá-la para que pudessem se ver por um curto tempo, mas não está em meu alcance. O meu pai é quem manda e desmanda.
- Eu entendo... Sofro muito com isso. Mas por favor, se tiver algo sobre ela para me falar, não me esconda nada.
- Talvez ela volte aqui, sim? Poderão conversar o tempo que quiserem, fique tranquila.
- Obrigada! E agradeço por me ouvir, senhor.
- É... Dandára, e a sua mãe, a dona... Dona Cila, não é?
- Sim, ela está na cozinha. É onde ficou a vida inteira.
- E... O Edmundo?
- Por ali, por trás.
- Ah sim... Entendi. Continue seu serviço, tenho certeza que Maria Vitória não vai demorar. - Ele se retirou, saindo em direção a saída da fazenda.
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Escrava Sinhá [Concluída]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, uma das mais belas moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o me...