Capítulo 89 - Parte 1

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                   Maria Vitória saiu cedo da pensão sem dizer aonde ia, aproveitando que Eugênia deixou a porta destrancada. Ela saiu sozinha pelas ruas com um vestido em tom rosado e um casaco da mesma cor por cima, e seu cabelo preso pela metade.






                    Chegando no tal jornal, ela bateu na porta com força, e foi atendida por um homem alto, um pouco forte e de cabelos grisalhos.



         - Eu posso ajudar?
         - Pode, claro! Quem é o redator desse jornal?
         - Sou eu mesmo, e você, quem é?
         - Ah... É o senhor? Bom... Muito bom! Eu sou Maria Vitória Álvares Real, a mesma que o senhor fez questão de difamar ontem entre as linhas de notícias. Posso entrar para conversarmos?
         - Eu não sei...   - Ele a olhou dos pés a cabeça.   - Não quero problemas, por gentileza, retire-se!
         - Se não me deixar entrar falarei aqui mesmo. Não sairei dessa porta até me ouvir.
         - Está bem, entre!   - Ele se afastou para ela entrar.
         - Obrigada!
         - Estou sozinho aqui, seja rápida. O que você quer?   - Ele parou encostando-se na parede.
         - Eu mesma me convidaria para me sentar, mas...
         - Aqui não é minha casa, é o meu local de trabalho.
         - Certo... Gostei, bem direto. Eu também serei bem direta... Eu quero saber quem lhe passou as tais informações que publicou ontem em seu jornal.
         - Como tens tanta certeza que alguém me passou? Eu poderia muito bem ter investigado.
         - Não perderia o seu tempo, é um jornalista não detetive. Eu tenho certeza que alguém veio até aqui e lhe contou, e com aumento nas histórias.
         - Seu tio... Imagino que seja o seu tio, esteve aqui ontem, o Lázaro, junto com o genro dele, Celso. Já me ameaçaram de processo e tudo, o que quer mais?
         - Moço, apenas um nome, nada além disso. Foi pago para guardar segredo?
         - Não, eu não fui.
         - E o que tem a perder?
         - Está bem, eu direi. Um capataz da fazenda do Barão esteve aqui, mas não me revelou o nome, apenas do mandante.
         - Mandante? E quem foi?
         - Um sujeito com o nome de Cipriano.
         - O Cipriano? Eu não acredito... Aquela peste continua a infernizar?!
         - Eu não sei, e não me importa. Publiquei pois sabia que causaria alvoroço, e muitos procurariam o jornal, e assim aconteceu. A senhorita já pode ir embora.
         - Vais mesmo publicar uma nova edição, mas dessa vez com a verdade?
         - Vou... Com a verdade sobre a prisão do Barão Leopoldo.
         - Muito obrigada! Agradeço também pela atenção.
         - Por favor, saia! Pode dar problemas para mim.
         - Certo! Não o incomodarei mais.   - Ela se retirou.



                Maria Vitória respirou fundo ao sair do jornal, e se sentiu aliviada. Ela seguiu em direção ao gabinete do ministro para fazer algo o qual lhe deu muita vontade.











                     Dandára avistou Lázaro de longe, e tentou alcançá-lo, mas um capataz a segurou. Ela então se pôs a gritar o nome do primogênito, que logo interveio para que fosse solta.


         - Senhor, muito obrigada!
         - O que queres comigo?
         - Eu sou a Dandára... Mãe da Maria Vitória.
         - A reconheci agora. Algum problema?
         - Eu soube do jornal, não se comentou outra coisa aqui. Eu queria muito saber da minha filha... Desde ontem sinto um aperto no peito, e pensei que ela pudesse estar sofrendo, visto que saiu o nome dela nas páginas.
         - Para ser sincero eu não estive com a Maria Vitória, não a vi. Minha filha Virgínia foi até a pensão, mas não me falou muito sobre a Maria.
         - Tem alguma forma de entrar em contato com ela? Eu preciso muito de notícias... Já me basta ficar presa aqui sem poder ajudá-la.
         - Eu sinto muito Dandára, mas você é uma escrava do meu pai, cativa da fazenda... Eu poderia liberá-la para que pudessem se ver por um curto tempo, mas não está em meu alcance. O meu pai é quem manda e desmanda.
         - Eu entendo... Sofro muito com isso. Mas por favor, se tiver algo sobre ela para me falar, não me esconda nada.
         - Talvez ela volte aqui, sim? Poderão conversar o tempo que quiserem, fique tranquila.
         - Obrigada! E agradeço por me ouvir, senhor.
         - É... Dandára, e a sua mãe, a dona... Dona Cila, não é?
         - Sim, ela está na cozinha. É onde ficou a vida inteira.
         - E... O Edmundo?
         - Por ali, por trás.
         - Ah sim... Entendi. Continue seu serviço, tenho certeza que Maria Vitória não vai demorar.   - Ele se retirou, saindo em direção a saída da fazenda.











Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now