Escrava Sinhá [Concluída]

Maria Vitória

Carta aberta: Maria Vitória - 1900

                    Olá, querido leitor! Se você chegou até aqui, com certeza terminou de ler parte da minha história, não é mesmo? Obrigada! Aposto que se emocionou e passou raiva em alguns momentos, sim? Não se preocupe, eu também! Não foi nada fácil passar pelo o que eu passei, e ter que me manter firme até o final. Mas eu venci! E não se esqueça, você também pode vencer as barreiras que a vida coloca como prova no seu caminho, basta ter fé e coragem para encarar tudo.

                   Deve estar curioso(a) para saber o que aconteceu depois daquele evento tão bonito, não é? Anos se passaram, e atualmente os Álvares Real continuam os mesmos, mas com novas caras e novas histórias.

           Virgínia realmente se casou com Henrique. A cerimônia foi na fazenda e casa do tio Lázaro, bem reservada, somente para a família. Ela teve grandes dificuldades para engravidar, e só conseguiu ter um bebê três anos depois. Seu casamento andava nas ruínas, mas recebeu muito apoio, principalmente da minha mãe Eugênia, que cuidou de Virgínia como se fosse uma filha. Henrique e Virgínia são os pais de Jane, mas infelizmente não são os pais mais amorosos do mundo.

                    Após se casar com Lúcio, Berenice investiu na sua sala de aula, que tempos depois tornou-se uma escola. Lúcio viu-se tornar-se um médico renomado, e ao lado de Berenice, viraram os pais do Joaquim, e da Estelinha.

                Celso e Ana Laura viram Bernardo crescer doce e gentil. Celso se tornou o advogado mais procurado do Rio de Janeiro, enfrentando Henrique diversas vezes no tribunal. Ana Laura tornou-se a grande colaboradora da escola de Berenice, onde colocou Bernardo para estudar também. Tentou ter outros filhos de todas as formas, e conseguiu anos depois, mas logo sofreu o baque da perda das gêmeas. Seguiu feliz ao lado de Celso, dando todo amor para o único filho, e talvez cuidando dele até demais.

           Eugênia continuou a visitar o túmulo de Leôncio sempre que podia. Se dedicou a ajudar Virgínia na criação de Jane, e ao orfanato que frequentava. A condessa faleceu no mesmo ano em que Jane nasceu, o que a fez ficar mais apegada a menina.

          Rosário seguiu o seu destino. Enfrentou muitas coisas difíceis, mas felizmente tomou o seu espaço, e é ovacionada sempre que chega para visitar o Rio de Janeiro. Acabou parando em Paris, onde dedicou-se a dança, e aprendeu etiquetas de gente rica! É muito querida pela madame que a acolheu, e seguiu uma carreira sozinha na dança.

         Edmundo construiu um bairro com as terras que herdou, onde as pessoas livres no 13 de maio puderam morar, sem pagar despesas. A fazenda contribuiu para o sustento de alguns, mas ainda enfrentavam grandes dificuldades. Dandára e ele se colocaram como casados, e ela como uma primeira dama do lugar, sendo muito querida, e respeitada, os dois juntos acolheram Bento como o próprio filho deles. Bento mostrou-se ser muito inteligente, e pretende ser um líder da luta contra o preconceito, assim como Tião e Edmundo.

         Lázaro e Branca, Peixoto e Maristela, vivem uma vida tranquila, a cuidar e corujar seus netos. Apesar das confusões e problemas que ainda resolvem, tentam manter a paz de suas vidas, e investem até mesmo em viagens.

         Cipriano continuou preso, e nunca mais a família ouviu falar dele outra vez.

         Infelizmente a vovó Cila faleceu em 1889. Mas partiu feliz, com um semblante de paz, e as dores dos anos de escravidão não eram nítidas. Ela deitou-se para dormir, e simplesmente não acordou. Ela apenas partiu.

         E eu, Maria Vitória, tive que enfrentar muitas coisas desde então. O preconceito de alguns senhores por ser a dona da fazenda, uma crise no casamento, até os atritos da proclamação da República. Fausto se dedicou a trabalhos de terras, ajudando-me na fazenda, e explorando o sítio. Em 1889 tivemos Maria Isabel, e dois anos depois Maria Elisa. Nossa Isabel é calma como uma flor, já Elisa é uma espoleta, e com um gênio difícil, mas as duas são maravilhosas! Vivemos bem, e apesar de algumas discussões, somos sim uma família muito feliz.

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