Capítulo 61

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                  Tião acordou cedo para ir até a casa de Celso e Ana Laura. Celso estava tomando café, sozinho, quando recebeu o antigo escravo.


         - Sente-se, Tião... Tome café!
         - Não, obrigado seu Celso.
         - Não, não... Não precisa disso. Serei Celso para você.
         - Agradecido!
         - Então, levantou-se cedo. E o Fausto?
         - Ah, permanece dormindo, ele falou comigo sobre a Maria Vitória, e dormimos tarde.
         - Entendo. Algum motivo para ter vindo cedo?
         - É... Eu queria ver a Rosário, ela deve estar acordada...
         - Bom, está um pouco cedo.
         - Mas lá na senzala levanta antes do sol nascer.
         - Não tinha pensado nisso. Pedirei para Hilde, a empregada, chamá-la.
         - Não precisa, se quiser, eu mesmo vou.
         - Sente-se, espere ela aí. Hilde! - Gritou.



            A empregada se aproximou.



         - Pois não, senhor?
         - Por gentileza, vá chamar a senhorita Rosário no quarto de hóspedes.
         - Desculpe-me, mas não sei de quem o senhor está falando. Quem é a senhorita Rosário?
         - Como não? A moça que estava aqui ontem, e que ficou para dormir junto a Iracema.
         - Ah... O senhor fala da... Da escurinha? A escrava?
         - Falo da negra, chamada Rosário. Agora vá, chame-a educadamente!
         - É... Sim senhor, com licença.




                A empregada saiu, e Tião questionou.


         - Ouviu isso? E olha que ela não é tão diferente de nós. Ela não é rica, é empregada. Mas se acha melhor por ser branca.
         - Infelizmente essa é a realidade, Tião. Sinto muito pelo constrangimento.
         - Não se preocupe, não tens culpa. Sabe, é muito bom saber que existem pessoas assim, como você, a Ana Laura. Obrigada!
         - Ah, o que é isso, Tião? Não tens que agradecer...
         - É que encontrar alguém que não nos olhe de maneira torta, é muito raro.
         - Mas não será, acredite! Pessoas como essas que você disse, um dia serão muitos!
         - Tomara, viu, tomara...








                    Hilde chegou ao quarto onde estavam as meninas, e bateu na porta.


         - Quem bate?   - Perguntou Iracema.


                A empregada abriu a porta, sem permissão. De lado, e sem encostar perto, ela disse:


         - O Senhor Celso deseja ver você, escrava.
         - Falou comigo?
         - Sim, é óbvio! Na verdade o senhor Celso me mandou vir, mas quem quer vê-la é o neguinho.
         - Quer dizer o Tião?
         - Esse mesmo, é... Com... Com licença!




Escrava Sinhá [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora