Capítulo 89 - Parte 2

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                      Virgínia saboreava um delicioso peixe cozido junto a Eugênia, em um restaurante no centro.


         - Está muito bom!
         - Sim, minha querida, está...
         - A senhora não parece muito animada agora. Eu disse algo de errado?
         - Não, apenas pensei em Maria Vitória, se já chegou na pensão... Ou onde ela estava.
         - Talvez... Ela tenha ido visitar a fazenda, não?
         - Sim, pode ter sido. É incrível, nunca consegui controlá-la... Mesmo quando pequena resistiu, não queria ir de jeito nenhum morar com os meus pais.
         - Não deve ter sido muito fácil também para a senhora ter que controlar uma filha... A qual não era sua.
         - Sim... Eu tenho uma teoria de que no fundo a Maria Vitória sempre soube de tudo, no fundo ela sabia que não era minha, só não sabia dizer.
         - Mas agora me diz tia... Quero saber o motivo para não ter procurado uma casa antes.
         - Ah sim... Claro! Bem, eu vou confiar isso, sim?
         - Não a prejudicaria nunca.
         - Pois bem, Virgínia. Eu não procurei uma casa antes, pois pretendia ir embora do Brasil.
         - Embora? A senhora disse que faria uma viagem...
         - Sim, mas uma viagem sem volta. Queria ir embora para a Europa e levar Maria Vitória comigo, para afastá-la definitivamente da escrava.
         - Tia... Mas como a Maria Vitória aceitaria isso?
         - Não é certo o que vou falar... Que Deus possa perdoar-me por mais este ato, mas... Eu queria ver Maria Vitória ainda mais magoada. Eu juro, que antes, se Fausto não tivesse colocado fim no compromisso dos dois eu teria feito.
         - Não consigo acreditar, tia... É... Tome um pouquinho de água.   - Virgínia lhe entregou a taça.
         - Obrigada!
         - Teria afastado os dois?
         - Sim, eu pretendia. Eu planejava levar Maria Vitória comigo, e o compromisso com Fausto não poderia ser uma desculpa. E tudo começou a conspirar ao meu favor, eu realmente tinha motivos para implicar com ele.
         - Eu realmente não esperava, mas isso para afastá-la da Dandára?
         - Eu sei que parece bobo, vulgar, uma besteira sem igual... Mas por favor, me entenda. Virgínia, a Maria Vitória é a única coisa que restou do meu casamento, mesmo que ela não seja minha. Eu sei que o Brasil está sofrendo grande pressão para abolir de uma vez a escravidão...
         - E com isso, Dandára ficará livre, e Maria Vitória vai com ela, certo?
         - Talvez... Mas sim, é isso. Eu só quero ter comigo, o que o meu marido me deixou. Com Maria Vitória me sinto próxima de Leôncio, ela se parecesse com ele... Isso me acalma em momentos, enfim.
         - Eu não julgo a senhora, até entendo sua parte.
         - Eu pretendia desestabilizar aos poucos o relacionamento dos dois. Faria a Maria Vitória querer ficar um pouco longe de tudo, e não voltaríamos.
         - E o que a faz mudar de idéia?
         - Quando eu cheguei no quarto e a encontrei deitada, chorando, muito machucada por dentro. Ela nunca gostou de demonstrar fraqueza, mas não suportou, juntou tudo, e não consegui olhá-la pensando que eu desejei aquilo.
         - Bom... Ao menos a senhora desistiu, não é?
         - Sim, eu me animei com a casa que vimos, eu quero ficar aqui, eu quero tentar  - Outra Vez. - Melhorar.
         - Então podemos tentar juntas, o que acha?
         - Será que conseguimos?
         - Ah tia... Eu acho que não!   - Risos.   - Pelo menos a gente se arrepende algumas vezes, não é?
         - Virgínia?!   - Ela sorriu.
         - Desculpa, tia, mas é verdade. De qualquer maneira vamos esquecer isso, sim? Eu quero falar com a senhora sobre outra coisa.
         - Pode falar, Virgínia.
         - A minha mãe... Ela pretende conseguir um pretendente para mim.
         - Que bom! Já tem alguém em mente?
         - Tia, quem vai querer se casar comigo depois do que saiu no jornal?
         - Talvez o pedido de desculpas tenha sido feito, sim? As pessoas vão esquecer. Mas estou animada por você!
         - Eu sinto que a minha mãe tem alguém em mente sim, mas não quer me falar. Talvez tenha medo de que eu seja rejeitada.
         - E quem rejeitaria uma moça tão bonita e educada? Além de tudo tem bom gosto, é vaidosa, tem ética.
         - Obrigada! Eu tenho muito medo, tia. No fundo tenho medo de ser infeliz, de me casar com alguém que me faça muito infeliz de verdade.
         - Isso não acontecerá, Virgínia.
         - Eu sinto certo desconforto quando falo sobre isso, apesar de que sempre desejei me casar, principalmente com um homem muito rico.
         - E o que te faz ficar tão desconfortável?
         - Toda vez que falo sobre, eu tenho a sensação de que não será fácil, de que não serei tão feliz como a minha irmã é.
         - Não diga isso... Ouça, um casamento não é um mar de rosas, é formado por bons e maus momentos. Faz parte, minha querida... Por mais difícil que possa parecer.
         - Eu quero muito a opinião da senhora quando o tal pretendente aparecer, será de extrema importância!
         - Ah, que alegria! Será uma honra, farei questão de opinar, e muito!   - Risos.
         - Agora eu preciso ir, tia... A minha mãe já deve estar inquieta, e a senhora deve querer ir ver a Maria Vitória.
         - Ah, não... Minha querida, fique! Ouça, eu posso acompanhá-la até em casa, e depois ir para a pensão.
         - Jura?
         - Sim, claro! Vamos pedir uma sobremesa, já almoçamos, conversamos, choramos... Ai, fizemos muito por hoje!
         - Eu concordo...
         - Mas vamos escolher um docinho, ou algo assim. Eu sei que já experimentou o doce de leite em barra, mas deve adorar esse outro aqui que vou lhe mostrar...

Escrava Sinhá [Concluída]Where stories live. Discover now