Virgínia saboreava um delicioso peixe cozido junto a Eugênia, em um restaurante no centro.
- Está muito bom!
- Sim, minha querida, está...
- A senhora não parece muito animada agora. Eu disse algo de errado?
- Não, apenas pensei em Maria Vitória, se já chegou na pensão... Ou onde ela estava.
- Talvez... Ela tenha ido visitar a fazenda, não?
- Sim, pode ter sido. É incrível, nunca consegui controlá-la... Mesmo quando pequena resistiu, não queria ir de jeito nenhum morar com os meus pais.
- Não deve ter sido muito fácil também para a senhora ter que controlar uma filha... A qual não era sua.
- Sim... Eu tenho uma teoria de que no fundo a Maria Vitória sempre soube de tudo, no fundo ela sabia que não era minha, só não sabia dizer.
- Mas agora me diz tia... Quero saber o motivo para não ter procurado uma casa antes.
- Ah sim... Claro! Bem, eu vou confiar isso, sim?
- Não a prejudicaria nunca.
- Pois bem, Virgínia. Eu não procurei uma casa antes, pois pretendia ir embora do Brasil.
- Embora? A senhora disse que faria uma viagem...
- Sim, mas uma viagem sem volta. Queria ir embora para a Europa e levar Maria Vitória comigo, para afastá-la definitivamente da escrava.
- Tia... Mas como a Maria Vitória aceitaria isso?
- Não é certo o que vou falar... Que Deus possa perdoar-me por mais este ato, mas... Eu queria ver Maria Vitória ainda mais magoada. Eu juro, que antes, se Fausto não tivesse colocado fim no compromisso dos dois eu teria feito.
- Não consigo acreditar, tia... É... Tome um pouquinho de água. - Virgínia lhe entregou a taça.
- Obrigada!
- Teria afastado os dois?
- Sim, eu pretendia. Eu planejava levar Maria Vitória comigo, e o compromisso com Fausto não poderia ser uma desculpa. E tudo começou a conspirar ao meu favor, eu realmente tinha motivos para implicar com ele.
- Eu realmente não esperava, mas isso para afastá-la da Dandára?
- Eu sei que parece bobo, vulgar, uma besteira sem igual... Mas por favor, me entenda. Virgínia, a Maria Vitória é a única coisa que restou do meu casamento, mesmo que ela não seja minha. Eu sei que o Brasil está sofrendo grande pressão para abolir de uma vez a escravidão...
- E com isso, Dandára ficará livre, e Maria Vitória vai com ela, certo?
- Talvez... Mas sim, é isso. Eu só quero ter comigo, o que o meu marido me deixou. Com Maria Vitória me sinto próxima de Leôncio, ela se parecesse com ele... Isso me acalma em momentos, enfim.
- Eu não julgo a senhora, até entendo sua parte.
- Eu pretendia desestabilizar aos poucos o relacionamento dos dois. Faria a Maria Vitória querer ficar um pouco longe de tudo, e não voltaríamos.
- E o que a faz mudar de idéia?
- Quando eu cheguei no quarto e a encontrei deitada, chorando, muito machucada por dentro. Ela nunca gostou de demonstrar fraqueza, mas não suportou, juntou tudo, e não consegui olhá-la pensando que eu desejei aquilo.
- Bom... Ao menos a senhora desistiu, não é?
- Sim, eu me animei com a casa que vimos, eu quero ficar aqui, eu quero tentar - Outra Vez. - Melhorar.
- Então podemos tentar juntas, o que acha?
- Será que conseguimos?
- Ah tia... Eu acho que não! - Risos. - Pelo menos a gente se arrepende algumas vezes, não é?
- Virgínia?! - Ela sorriu.
- Desculpa, tia, mas é verdade. De qualquer maneira vamos esquecer isso, sim? Eu quero falar com a senhora sobre outra coisa.
- Pode falar, Virgínia.
- A minha mãe... Ela pretende conseguir um pretendente para mim.
- Que bom! Já tem alguém em mente?
- Tia, quem vai querer se casar comigo depois do que saiu no jornal?
- Talvez o pedido de desculpas tenha sido feito, sim? As pessoas vão esquecer. Mas estou animada por você!
- Eu sinto que a minha mãe tem alguém em mente sim, mas não quer me falar. Talvez tenha medo de que eu seja rejeitada.
- E quem rejeitaria uma moça tão bonita e educada? Além de tudo tem bom gosto, é vaidosa, tem ética.
- Obrigada! Eu tenho muito medo, tia. No fundo tenho medo de ser infeliz, de me casar com alguém que me faça muito infeliz de verdade.
- Isso não acontecerá, Virgínia.
- Eu sinto certo desconforto quando falo sobre isso, apesar de que sempre desejei me casar, principalmente com um homem muito rico.
- E o que te faz ficar tão desconfortável?
- Toda vez que falo sobre, eu tenho a sensação de que não será fácil, de que não serei tão feliz como a minha irmã é.
- Não diga isso... Ouça, um casamento não é um mar de rosas, é formado por bons e maus momentos. Faz parte, minha querida... Por mais difícil que possa parecer.
- Eu quero muito a opinião da senhora quando o tal pretendente aparecer, será de extrema importância!
- Ah, que alegria! Será uma honra, farei questão de opinar, e muito! - Risos.
- Agora eu preciso ir, tia... A minha mãe já deve estar inquieta, e a senhora deve querer ir ver a Maria Vitória.
- Ah, não... Minha querida, fique! Ouça, eu posso acompanhá-la até em casa, e depois ir para a pensão.
- Jura?
- Sim, claro! Vamos pedir uma sobremesa, já almoçamos, conversamos, choramos... Ai, fizemos muito por hoje!
- Eu concordo...
- Mas vamos escolher um docinho, ou algo assim. Eu sei que já experimentou o doce de leite em barra, mas deve adorar esse outro aqui que vou lhe mostrar...
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Escrava Sinhá [Concluída]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, uma das mais belas moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o me...